Folha de S. Paulo


'Só chorei', diz agricultora ao receber da comunidade alimento para os filhos

Divulgação/CEPFS
Maria da Luz, 51, amparada pela associação comunitária de Monteiro, em Cacimbas (PB)
Maria da Luz, 51, amparada pela associação comunitária de Monteiro, em Cacimbas (PB)

"Não sabia se sorria, chorava, agradecia. Então eu só chorei", conta a agricultora Maria da Luz, 51, ao lembrar do auxílio que recebeu da associação comunitária de Monteiro, onde mora, no município de Cacimbas, médio sertão da Paraíba.

Para ela, a vida em comunidade foi essencial para que, há 27 anos, colocasse comida dentro de casa para alimentar os três filhos após a caçula voltar do hospital. "Era difícil o jeito de viver. Tinha duas famílias, meus filhos e três irmãos para eu criar", lembra.

A gratidão de Maria é ainda maior, pois o apoio veio após um período de inadimplência de 60 meses, momento em que quase saiu da associação.

"Todo mundo ficou bravo, que não era para eu sair. Dei um jeito, paguei a mensalidade." Depois da dificuldade superada, veio a promessa. "Falei para as crianças que nunca mais ia sair da associação."

A associação de moradores teve um papel fundamental na vida de Maria da Luz e, agora, consegue ajudar também outras famílias. Desde 1997, a organização civil passou a participar do Fundo Rotativo Solidário, uma espécie de poupança comunitária instalada em Cacimbas pelo CEPFS (Centro de Educação Popular e Formação Social).

O centro foi fundado por José Dias, empreendedor social que integra a Rede Folha de Empreendedores Socioambientais e trabalha em prol da convivência sustentável com a realidade do semiárido a partir da promoção do encontro de saberes locais e do associativismo.

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Em Monteiro, o fundo tem três modalidades para auxiliar a população: um grupo de dez famílias que contribuem com R$ 5 por mês; outro que devolve o valor a partir de benefícios recebidos, como cisternas e apoio para caráter produtivo; e o último, chamado poupança coletiva, onde as famílias contribuem com R$ 10 mensalmente.

MELHORIAS

Maria da Luz reconhece, ainda, os benefícios desde que a comunidade passou a receber o apoio do CEPFS. "Na época tudo era difícil. Agora tem muito apoio. Veio cisterna para os pequenos agricultores, formação e aprendizado."

Uma dessas melhorias, o fundo rotativo havia movimentado mais de R$ 3 mil com a devolução dos empréstimos até outubro do ano passado, atendendo a várias necessidades dos participantes.

Outro apoio veio da Brazil Foundation com os R$ 5 mil ganhos no Prêmio de Inovação Comunitária, o que fortalece o grupo, animando a participação e o ingresso de novas famílias, de acordo com o CEPFS, que apadrinhou a associação.

Esse fortalecimento é essencial para que pessoas como Maria da Luz continuem encontrando nos próprios parceiros da comunidade um apoio. "Para vencer as dificuldades, tem que se segurar em alguma coisa e, no meu caso, foi na comunidade que eu me segurei."


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