Folha de S. Paulo


'Precisamos mais que abraçar árvores', diz ambientalista sobre preservação

O presidente da Fundação Leonardo DiCaprio, Terry Tamminen, esteve em Nova York na quarta-feira (26) para conhecer projetos brasileiros que lutam pela conservação do ambiente.

Iniciativas que protegem desde nascentes em São Paulo até a preservação do mico leão dourado, passando pelo reflorestamento da cabeceira do rio Xingu.

"O Brasil tem muitas belezas naturais, o que o torna um ótimo lugar para fazer mudanças em escala", afirmou o ex-secretário de Proteção Ambiental e ex-assessor do ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger, em entrevista exclusiva à Folha.

Além dos projetos brasileiros, foi apresentado aos participantes do evento o estudo do Instituto Escolhas que aponta serem necessários R$ 52 bilhões para replantar 12 milhões de hectares de florestas no Brasil, como Sergio Leitão, fundador da organização, havia antecipado no "Diálogos Transformadores - Boas Práticas no Combate ao Desmatamento", em maio.

Para o ambientalista, mesmo se tratando de um alto investimento, ele é importante e se equivalve à construção de estradas. "Se investe milhões e milhões sem um benefício imediato, mas todos sabemos que isso significa mais carros, mais turistas e mais benefícios para a sociedade."

Divulgação
Terry Tamminen, presidente da Fundação Leonardo DiCaprio
Terry Tamminen, presidente da Fundação Leonardo DiCaprio

*

Folha - Qual o trabalho da Fundação Leonardo DiCaprio?
Terry Tamminen - A fundação foi criada em 1988 pelo Leonardo e sua mãe foi muito ativa no início, no trabalho com poluição nos oceanos. Leo estava interessado habitats e espécies em perigo de extinção, o que contribuiu para seu esforço na proteção de elefantes e rinocerontes ao redor do mundo.

Cerca de quatro atrás, ele se encontrou com doadores e financiadores e, como ele tem muitos amigos artistas, eles doaram suas obras para um leilão beneficente. Assim conseguimos ampliar o trabalho para conservação do ambiente.

Me juntei a eles porque, especialmente nos últimos anos, há uma crescente preocupação com as mudanças climáticas e a fundação queria que fosse criado um programa o mais rápido possível. Montei uma equipe para desenvolver algumas das mais inovadoras e agressivas soluções porque sentimos que estamos ficando sem tempo para resolver a crise climática.

Qual ligação da fundação com o evento que apresentou os casos de conservação florestal no Brasil?
Reconhecemos que existem muitas formas para falar sobre esses problemas relacionados ao clima, mas, primeiramente, é preciso parceiros. Nenhuma fundação, organização ou governo pode fazer isso sozinho.

Firmar parcerias é uma grande força, especialmente em lugares como o Brasil. O objetivo foi entender melhor quais são as oportunidades e acho que não existe lugar melhor que o Brasil para tomar uma atitude e se envolver.

Existem muitas pessoas inteligentes que entendem que precisamos mais que abraçar árvores, por assim dizer. É preciso envolver a parte econômica e há muitas formas de fazer isso que sejam benéficas tanto para parte do ambiente como para a economia.

O Brasil tem muitas belezas naturais, o que o torna um ótimo lugar para fazer mudanças em escala.

Como você avalia os resultados do estudo realizado pelo Instituto Escolhas?
O estudo mostra que existe um custo para o reflorestamento mas também muitos benefícios, que em sua maioria levarão muitos anos para que se possa apreciar e entender.

A pesquisa fez um ótimo trabalho em mostrar isso e onde estarão os maiores benefícios diretos e indiretos.

Para um país em crise, como ressaltar a importância de um investimento tão grande?
Diria que esse é um investimento no futuro do país. Assim como se constrói estradas e se investe milhões e milhões sem um benefício imediato, mas todos sabemos que isso significa mais carros, mais turistas e mais benefícios para a sociedade.

Esses investimentos são bem claros e, talvez, quando se investe em florestas e ecossistemas naturais não seja tão óbvio, mas é a mesma coisa.

Qual o cenário dos projetos que você conhece ligados ao reflorestamento? O que precisa ser melhorado com urgência?
Reflorestamento é algo difícil de explicar para as pessoas. É fácil em um sentido, é só plantar a árvore, mas leva muitos anos para ver a floresta crescer e medir os benefícios.

Então é um dos últimos itens da lista porque pode ser caro, é extremamente controverso. Não é simples como outras soluções sustentáveis como colocar um painel solar no teto de casa. Dá trabalho.

Como fazer do reflorestamento uma prioridade?
Primeiramente, com reuniões e eventos como esse de Nova York. Quando se explica para as pessoas todos os benefícios, elas se animam.

Somos seres emocionais e quando se vai para a floresta e se vê animais como o mico leão dourado, há um retorno para as raízes e para a essência do que é ser humano. Não nascemos para viver em caixas de concreto, somos criaturas da floresta.

As pessoas podem se animar com esse retorno e talvez priorizar a preservação do que restou e reflorestar o que se perdeu.

Você acredita que eventos como esse de Nova York e a Conferência do Clima em Paris são importantes para conscientizar as pessoas?
Mais do que isso. Esses eventos são sobre fazer com que os governos priorizem essas iniciativas. Antes do Acordo de Paris, haviam iniciativas de combate às mudanças climáticas, mas não se tinha ideia se estava no caminho para a solução.

Depois do acordo, é possível dizer o que os países, coletivamente, concordaram em fazer e como vão fazer. Mas as soluções propostas no acordo são apenas metade do caminho que se precisa percorrer. Se reconheceu que há muito ainda a ser feito.

Na sua opinião, as iniciativas para essas soluções já existem, mas o que se precisa é escala?
Com certeza. Por exemplo, existem muitas tecnologias emergindo relacionadas ao reaproveitamento do lixo em combustíveis ou adubos, transformando plástico em plástico novamente ou em pneus. Mas essas tecnologias ainda são relativamente pequenas e precisam de escala.

Vendo essas iniciativas, você é otimista em relação ao futuro do planeta?
Certamente. O mundo, no fim das contas, vai fazer a coisa certa, mas somente após chegar à beira do desastre.

É verdade que, em alguns lugares, o desastre já chegou. Vemos tempestades mais fortes, furacões, secas mais longas e intensas, todas relacionadas à mudança climática e que foram previstas 20, 30 anos atrás e estão acontecendo agora.

Isso mostra que o tempo está se gostando, mas, assim como nos bons filmes de ação, no último minuto, um herói irá nos salvar. Existem muitos heróis.


Endereço da página:

Links no texto: