Folha de S. Paulo


De centavo em centavo, Arredondar colhe milhões em doações para ONGs

De doação de R$ 0,34 (valor médio em supermercado) em doação de R$ 0,18 (arredondamento típico em lojas de calçados) a Arredondar alimenta o caixa de dezenas de ONGs.

O sistema de microdoações do movimento criado pela administradora Nina Valentini, 29, finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro, tem uma lógica simples: o cliente de um estabelecimento doa alguns centavos quando vai finalizar uma compra e, com milhares de lojas oferecendo a opção, milhões de reais se revertem em verbas para dezenas de projetos e causas sociais das mais diversas áreas.

Conheça o Arredondar

Um deles é a Casa Santa Ângela que realiza 30 partos humanizados por mês na zona sul de São Paulo. A parceria começou em 2015 e, por mais que os valores ainda não tenham alcançado a expectativa, de R$ 80 mil anuais, já são suficientes para custear uma parturiente do semestre anterior a dar à luz até o primeiro ano de vida do seu bebê.

O dinheiro doado pelo consumidor vai para entidades alinhadas com os Objetivos do Milênio da ONU. Depois de feitas na boca do caixa, as microdoações são divididas: 45% do valor vai para as ONGs indicadas pelo varejista. Os outros 45% vão para o portfólio de instituições do Arredondar.

Valentini afirma que esse sistema beneficia ONGs menores ou difíceis de propagandear, que lidam com temas sensíveis como o abuso infantil e sairiam perdendo caso os clientes pudessem direcionar toda a verba. Os 10% restantes vão para custear a Arredondar.

O que ajuda, mas ainda não os coloca no azul. "Seria preciso ter 55 mil doadores por dia", conta Valentini. O sistema encontra mais obstáculos do que uma eventual sovinice. "É uma questão de tecnologia, sistema tributário e confiança."

O ganho de confiança vem pelo convencimento do consumidor final de que aquele dinheiro vai chegar de fato numa boa causa. "Já ouvimos mais de uma vez o dono da empresa pedindo para doar para o instituto social da própria empresa, ou para a ONG da amiga", conta o fundador Ari Weinfeld, 57, que convidou Nina para a empreitada. "Daí explicamos que não pode, que nós fazemos uma seleção de para onde vai o dinheiro."

Tiveram também lombadas tecnológicas. Criaram dez sistemas operacionais diferentes que conversassem com os softwares de diferentes redes. E isso foi só o começo. Agora bolam uma solução para TOS, aquelas maquininhas portáteis de cartão, que vai permitir ao cliente doar (ou não) direto na tela, sem precisar ouvir a pergunta do atendente.

Mas há um entrave externo que limita o escopo do funcionamento da ideia: a questão tributária. A Arredondar está impedida de entrar em parte do Brasil por uma questão legal: em dez Estados, seria necessário que se imprimisse um boleto para pagar o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) sobre a doação, mesmo que ela seja de um centavo.

São Paulo e Rio têm uma taxa de isenção anual que gira em torno de R$ 56 mil. Espírito Santo e Minas Gerais também têm uma legislação que viabiliza a prática, e serão foco em breve. "Um dia ajudar vai ser fácil", preconiza Weinfeld.


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