O Complexo da Maré, que abriga 16 favelas no Rio de Janeiro, ganha, nesta sexta-feira (28), um espaço exclusivo para projetos e serviços voltados ao empoderamento e incentivo à autonomia das mulheres que vivem na região.
Batizada de Casa das Mulheres da Maré, a iniciativa tem o objetivo de combater a violência doméstica, orientar mulheres sobre os seus direitos e oferecer formação profissional e assessorias jurídica, psicológica e social, além de propor debates sobre gênero.
O espaço é um projeto da Redes da Maré, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que trabalha para transformar a realidade do complexo por meio de projetos que articulam arte e cultura, comunicação, desenvolvimento territorial, educação e segurança pública.
"A Casa é uma resposta para demandas históricas das mulheres da Maré. Vem somar neste momento importante do protagonismo feminino e de tantas questões sobre suas lutas", diz Eliana Sousa Silva, 54, fundadora da Redes da Maré e finalista do Prêmio Empreendedor Social 2015.
A demanda histórica é de mulheres que, assim como Sousa, ajudaram a construir a Maré e lutaram por direitos básicos como o de ter acesso à água e a creches. Elas representam 51% dos 129 mil moradores do complexo, segundo o Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"A Redes da Maré tem uma missão de pensar projetos estruturantes e trabalhar iniciativas de desenvolvimento local que deem conta de melhorar a vida da população da Maré", explica Sousa. "A questão das mulheres é muito importante dentro dessa perspectiva estruturante".
O impacto das atividades desenvolvidas pelas mulheres na comunidade é grande, conta Sousa, porque, segundo o Censo, elas são responsáveis pelo sustento de 45% dos lares. Por isso, o foco da Casa também será a realização de cursos profissionalizantes.
"As mulheres na Maré, como as outras mais pobres de regiões periféricas, em geral, largam o estudo mais cedo porque têm de trabalhar fora ou em casa", conta Shirley Villela, coordenadora da Casa das Mulheres da Maré. "Isso as tira da escola e da possibilidade de ter um aprendizado e um aprofundamento profissional maior depois do ensino médio", diz.
Ainda de acordo com o Censo, 10% das mulheres que vivem no complexo não são alfabetizadas e 57% se declararam negras.
Para qualificá-las, a Redes da Maré desenvolve o Maré de Sabores, projeto que desde 2010 formou 350 mulheres em oficinas de gastronomia e mantém um bufê que atende por encomenda.
"Essa possibilidade de empreender dentro de casa melhora a renda familiar e individual e a autoestima", afirma Villela. O Maré de Sabores e os demais projetos estarão sediados em um edifício de 360 m² com quatro andares, no Parque União.
TRABALHO EM REDE
Para a formação dos núcleos de assessorias jurídica, psicológica e social, a Redes da Maré formará parcerias com universidades, que cederão estagiários para orientar as mulheres. O primeiro convênio foi assinado com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para as áreas de psicologia e direito.
O Rotary Club do Rio de Janeiro também fechou parceria com a Oscip para desenvolver cursos profissionalizantes.
Para viabilizar outras iniciativas e pesquisas de empoderamento da mulher, a Redes da Maré busca mais apoios.
"Também vai ser um espaço para criar incidência de políticas públicas sobre os direitos da mulher", afirma Sousa. "Precisamos movimentar pessoas e iniciativas que queiram investir para melhorar a condição de vida das moradoras da Maré".
Segundo a Redes da Maré, a construção da Casa das Mulheres da Maré foi viabilizada com patrocínios de Action Aid, Instituto Lojas Renner e Fundação Ireso.