Folha de S. Paulo


'Diálogos Transformadores' aponta revolução empreendedora feminina

A entrada em cena da economia colaborativa e outras mudanças em curso no mundo são uma oportunidade para o avanço rumo à equidade de gênero no ambiente corporativo e também na vida.

Esta é uma das conclusões da terceira edição da série "Diálogos Transformadores", uma parceria da Folha com a Ashoka, realizada na terça-feira (18), no auditório do jornal em São Paulo.

Durante duas horas, oito convidadas dividiram suas experiências sobre o empoderamento feminino.

"Empoderamento é palavra masculina porque o poder é um requisito muito masculino", disse Alice Freitas, fundadora da Asta, rede que reúne artesãs em arranjos colaborativos para geração de renda de mulheres da base da pirâmide social.

Assim como ela, outras debatedoras destacaram a importância do empoderamento econômico para que as mulheres tomem as rédeas da própria vida e possam fazer suas escolhas.

"A revolução está no dinheiro que elas vão produzir com as empresas que vão abrir", resumiu a apresentadora Ana Paula Padrão, sobre o trabalho da Escola de Você, negócio social que criou para promover o empreendedorismo feminino nas classes C, D e E.

Amalia Fisher, criadora do Fundo Elas, também salientou o viés econômico. "As mulheres precisam de recursos. Dinheiro é poder nessa sociedade", afirmou. "Cada uma de nós temos potência. Mesmo que o patriarcado e o machismo sejam grande e os homens tenham estruturas maiores de poder, mulheres têm micropoderes."

O ambiente dos negócios ainda está longe de ser confortável para as mulheres e aberto para a gestão feminina. "Não lemos as letrinhas pequenas do contrato, de trabalhar como homem, 16h por dia sem levar filho no médico ou buscar na escola", lembrou Padrão.

Para Tatiana Trevisan, gerente de sustentabilidade da rede Walmart e diretora do Movimento Mulheres 360, políticas afirmativas para o público feminino dentro das empresas é só o começo do desafio da equidade de gênero. "Ou fazemos um ambiente propício para as mulheres, que são a maior parte da mão de obra disponível, ou não vamos tê-las daqui a pouco."

Uma das cem pessoas da plateia, Vanessa Verea, gerente de marca corporativa da Unilever, que conta com 50% de mulheres em cargos de liderança, destacou a necessidade de envolvimento de vários setores da sociedade para se alcançar o empoderamento feminino. "Temos que estimular o debate e apoiar organizações."

Os avanços precisam também chegar a outros espaços, como o doméstico, no qual a mulher vai ter também de aprender a dividir melhor o espaço com os homens. "Quando meu filho nasceu, eu viajei dez dias e deixei meu marido com ele. Foi o melhor presente que eu dei aos dois. Precisamos educar nossos filhos e incentivar nossos maridos a participar", defendeu Alexandra Loras.

Consulesa da França em São Paulo por quatro anos e uma das protagonistas do evento multimídia, ela relatou como deixou o papel "decorativo" reservado à função para ser referência no empoderamento da mulher negra.

A cineasta Tata Amaral, diretora do longa "Antonia", rodado na Brasilândia, zona norte de SP, também falou da importância de trabalhar a autoestima de jovens negras da periferia, como as retratadas no filme.

"Uma das meninas dizia que cresceu com com complexo de inferioridade porque adorava a Xuxa, só que ela é 'alta, loira e magra' e 'eu sou baixinha, gordinha e tenho o cabelo crespo'", relembra. "Não há identificação, herói negro e mulher heroína na nossa cultura."

Diante de tantos desafios, as participantes do evento ressaltaram a necessidade de novos modelos. "O nosso papel no mundo é trazer o que temos de melhor: o feminino, que é múltiplo. É colaboração, apoio mútuo, a não competição", concluiu Alice Freitas, empreendedora das redes Folha e Ashoka.

O conteúdo completo do debate pode ser acessado em canal próprio na "TV Folha", onde também será disponibilizado em novembro o minidocumentário da websérie "Diálogos Transformadores" sobre empoderamento feminino.


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