Folha de S. Paulo


'ODS são oportunidade para novos negócios', diz consultora da ONU

Em São Paulo para a Conferência Ethos 360°, a consultora sênior da ONU (Organização das Nações Unidas) Emma Torres falou sobre a importância da implementação dos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e o papel central de empresas e governos.

"O governo tem que desenvolver instrumentos inovativos para incentivar as empresas. E as empresas, de sua parte, têm que fazer um grande esforço para entender o seu negócio", afirmou em entrevista exclusiva à Folha.

Há mais de 20 anos na ONU, a consultora sempre trabalhou na área de desenvolvimento e ambiente e acompanhou de perto negociações de clima, como a Rio+20 e o Acordo de Paris.

Para ela, mesmo países em crise têm como tornar a implementação dos ODS uma prioridade. "Todos os países, embora estejam em crise, em diferentes níveis, têm um orçamento nacional. [...] É preciso alinhar esses orçamentos em função dos grandes objetivos."

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Emma Torres, consultora sênior da ONU (Organização das Nações Unidas)
Emma Torres, consultora sênior da ONU (Organização das Nações Unidas)

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Folha - Qual o papel da empresa para atingir os ODS?
Emma Torres - O papel da empresa vai ser central. Os 17 objetivos são muito ambiciosos e eles aspiram a uma grande transformação das nossas economias de uma maneira a ter um crescimento sem degradação ambiental e com maior inclusão social.

É um novo paradigma de desenvolvimento nesse sentido. O que é bom desses objetivos é que milhões de pessoas foram consultadas, eles foram acordados pelos governos e as empresas a nível global participaram ativamente.

Os governos têm um papel central, mas a empresa é fundamental no sentido das parcerias, de inovação. Vai precisar de muita inovação além de recursos financeiros.

Quais são os principais desafios que essas empresas vão ter?
Cada grupo, setor ou empresa tem que fazer uma análise de qual é o seu ciclo de negócios e ver então como é que pode melhorar e alinhar mais com alguns ODS.

Tem várias empresas que começaram a olhar. Os ODS são uma oportunidade para surgir novos negócios, mas eles têm que identificar suas áreas e ver investimentos em inovação que podem fazer.

As empresas estão prontas para isso? O que precisa ser melhorado?
O governo precisa ter um ambiente mais favorável e incentivar as empresas a mudarem.

Essa campanha que o Brasil tem agora, e que a Ethos está participando ativamente, da precipitação do carbono é fundamental. Aí tem uma linha de trabalho que o governo daria para as empresas para que comecem a ajustar os seus negócios a essa nova realidade.

O governo tem que desenvolver instrumentos inovativos para incentivar as empresas. E as empresas, de sua parte, têm que fazer um grande esforço para entender o seu negócio, o impacto ambiental e como eles podem melhorar nisso em função dos objetivos de desenvolvimento.

Além do governo, quais são os instrumentos inovadores para financiar os ODS?
Os instrumentos de garantia. Criar instrumentos de garantia para incentivar o setor financeiro estrangeiro. Um dos problemas, por exemplo, é a infraestrutura, que precisa de investimento a longo prazo, e muitos dos fundos internacionais que existem têm mais incentivos de curto prazo.

Para atrair para o longo prazo é preciso garantias que cubram certos riscos. Esses instrumentos inovadores, por exemplo, a garantia, são uma forma de atrair esse tipo de recurso de fora, não investindo diretamente, mas garantindo parte do investimento.

Como reforçar a importância dos ODS em países em crise, como no caso do Brasil?
Todos os países, embora estejam em crise, em diferentes níveis, têm um orçamento nacional, que é a maior fonte de financiamento. Então é preciso alinhar esses orçamentos em função dos grandes objetivos.

Por exemplo, uma das coisas importantes dos ODS é que eles são interrelacionados. Se você está fazendo um investimento em infraestrutura, o país pode alinhar esse investimento e criar uma estrutura mais resiliente, com um impacto social maior.

Por outro lado, os países têm bancos de desenvolvimento que também podem realinhar e criar mecanismos para multiplicar esses recursos, por exemplo, criando fundos de garantias para mobilizar recursos de fora. Enfim, existem possibilidades mesmo para os países que não estão nas melhores condições financeiras.

Em que situação está o Brasil no sentido de atingir os ODS?
O Brasil está em uma posição bastante boa. Foi um país líder na Rio 92, na Rio+20, foi realmente inspirador no desenvolvimento dos ODS que foram aceitos por 196 países e que são universais.

O país tem uma vocação de sustentabilidade e também está começando muitas inovações tanto nas empresas, como também o fato de diminuir, há um, dois anos, a taxa de desmatamento. É um grande logro, uma das coisas importantes que aconteceu.

Dentro dos ODS, todos os países estão em desenvolvimento porque todos têm espaço para melhorar. Nesse sentido, o Brasil também tem, mas tem muitos ativos e uma grande liderança em certas áreas para poder avançar nesses objetivos.

E o que precisa ser feito globalmente para melhorar?
Ver, em função dos ODS, onde é que o país está e quais são as maiores falhas e também ver aqueles que são relativamente mais urgentes. As cidades também vão jogar um papel central na área de clima e energia, que são fundamentais.

Os municípios têm que ver os planos com seu próprio orçamento. Todos têm que trabalhar nesses planos de implementação e colocar os ODS nos planos de desenvolvimento nacional, da cidade, dos investimentos nacionais e das negociações com fontes financeiras estrangeiras.


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