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Historiadora aponta atraso do 3º setor em entender valor de dados digitais

Rogerio Lorenzoni/Divulgação
Historiadora americana, Lucy Bernholz veio ao Brasil e falou sobre importância do Big Data no 3º setor
Historiadora americana, Lucy Bernholz veio ao Brasil e falou sobre importância do Big Data no 3º setor

A historiadora americana Lucy Bernholz esteve no Brasil na segunda-feira (12) para falar a uma plateia de líderes institutos e fundações do terceiro setor sobre o Big Data –dados que impactam os negócios no dia a dia– e sua importância para a sociedade civil.

"Estamos compartilhando nosso mundo agora com uma infraestrutura digital que nos permite coisas incríveis, mas que também está criando esse banco de dados sobre nós", afirma Lucy em entrevista exclusiva à Folha.

Diretora do Laboratório da Sociedade Civil Digital, em Stanford, nos EUA, ela mostrou para público por que o terceiro setor precisa aprender a trabalhar com o Big Data durante o lançamento da plataforma Visões de Futuro+15, que aponta tendências que podem influenciar na tomada de decisão de pessoas e empresas.

O estudo foi realizado pela Fundação Telefônica Vivo e utiliza o Big Data para reunir centenas de iniciativas ao redor do mundo capazes de transformar a maneira como a sociedade está organizada.

Ele é um primeiro passo da tomada de consciência do terceiro setor sobre a importância de manejar os dados digitais, como explica Lucy. "Precisamos concordar e entender como os dados digitais funcionam e como dependemos deles."

Todo o estudo da fundação virou um projeto de inovação educativa para levar essas informações para a sala de aula, unindo alunos e pais ao redor do assunto e formando professores, para que a mudança digital ocorra.

"Levar para sala de aula o tablet não significa que o mundo digital entrou na escola. A mudança será por meio da formação do professor que beneficia o aluno", diz o diretor-presidente da Fundação Telefônica Vivo, Americo Mattar.

Leia abaixo trechos da entrevista de Lucy Bernholz para a Folha

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Folha - Como funciona o Laboratório da Sociedade Civil Digital, em Stanford?
Lucy Bernholz - Ele existe para tentar entender para onde o mundo está indo [na era digital]. Estamos comprometidos em ajudar a sociedade civil a prosperar na era digital e achamos que isso não está acontecendo agora.

Trabalhamos para entender, catalisar e criar novas regras organizacionais e legais para que a sociedade civil continue a prosperar na democracia durante a era digital.

E qual é esse futuro?
Para mais dados. Agora, ainda agimos como se controlássemos quando interagimos com o meio digital. Pensamos que é apenas quando ligamos gravadores ou usamos celulares ou acessamos a internet. O fato é que esse meio está coletando nossos dados o tempo todo.

Estamos compartilhando nosso mundo agora com uma infraestrutura digital que nos permite coisas incríveis, mas que também está criando esse banco de dados sobre nós e que as pessoas precisam ter cuidado.

A sociedade civil está pronta para isso?
Não, absolutamente não. Acho que precisamos nos lembrar o porquê desse setor existir nas democracias. Ele existe para permitir que as pessoas façam coisas juntas que não são fornecidas pelo governo nem pelo setor privado.

É um papel importante e incrível e, sem a sociedade civil, a democracia tropeça. Se a sociedade civil deixar de existir, democracias irão falir.

Precisamos definir como nós, como cidadãos e representantes desse setor, queremos usar os dados e a infraestrutura digital que é autorizada de maneira privada, mas dedicada para o benefício público. E precisamos distinguir do uso para negócios e para governo. Esses dois setores estão muito avançados em relação à sociedade civil.

Qual é o primeiro passo para se preparar para esse futuro?
Primeiro, precisamos concordar e entender como os dados digitais funcionam e como dependemos deles. Se você perguntar para a maioria das pessoas dessa sala, no início do dia, se eles eram organizações que gerenciavam dados, eles teriam dito não. Agora, espero que eles saiam e digam: "Com certeza, sim".

Como você acha que o uso desses dados pode mudar a relação entre fundações e organizações na sociedade civil?
A primeira coisa a entender é que existe um poder dinâmico nos dados. Escutamos o tempo todo que informação é poder e então esquecemos disso quando começamos a coletar informações sobre as pessoas.

Existem organizações extraordinárias que se comprometem a deixar o próprio dado disponível, como esse estudo da [Fundação] Telefônica [Vivo].

Na escola, o professor pedia para mostrar o trabalho e não apenas o resultado, e é isso que significa compartilhar os dados. São essas as informações que usamos para chegar a tais conclusões. Queremos que você olhe para essa informação e nos diga o que está faltando ou nos dê análises diferentes.


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