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'Voluntários são catalisadores da mudança', diz chefe de agência da ONU

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Amanda Mukwashi, chefe do setor de Conhecimento sobre Voluntariado e Inovação do UNV, em anúncio de parceria inédita com a Samsung, no Brasil
Amanda Mukwashi, chefe do setor de Conhecimento sobre Voluntariado e Inovação do UNV, em anúncio de parceria inédita com a Samsung, no Brasil

Em seu programa de voluntariado, a ONU consegue reunir 480 mil usuários em uma plataforma on-line, entre ONGs, agências da própria organização e voluntários.

No entanto, o chamado UNV está atrás de soluções inovadoras para agregar ainda mais pessoas ao redor do mundo.

"Precisávamos encontrar parceiros que vão nos ajudar a alcançar aqueles nunca antes alcançados", explica a chefe do setor de Conhecimento sobre Voluntariado e Inovação do programa, Amanda Mukwashi.

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Crente da diferença que o trabalho voluntário pode fazer no mundo, sobretudo em meio à crise humanitária que se vive nos cinco continentes, ela esteve no Brasil para celebrar a nova parceria com a Samsung, gigante da tecnologia.

"A parceria se encaixa no nosso guarda-chuva de inovações que fará com que se atinja essas pessoas."

Leia a trechos de sua entrevista para a Folha

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Folha - O que é o UNV?

Amanda Mukwashi - UNV é o programa de voluntariado da ONU [na sigla em inglês]. Somos uma agência parte do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Nós promovemos e mobilizamos voluntários para trabalharem nas agências da ONU e nos países em programas de desenvolvimento e manutenção de paz.

Como funciona a plataforma on-line do programa de voluntariado?

A plataforma tem em torno de 480 mil usuários registrados. Alguns são ONGs, outros agências da ONU e também departamentos governamentais em todo o mundo. Claro, também há pessoas que querem ser voluntários.

O site é em três línguas, inglês, francês e espanhol e nos permite articular a necessidade dessas organizações com pessoas de diferentes lugares que possuam as habilidades, o conhecimento e a experiência necessárias para o serviço.

Que projetos são desenvolvidos pelo UNV?

Trabalhamos com mais de 60 mil voluntários em campo, que estão presentes em diferentes países, principalmente os em desenvolvimento, trabalhando em projetos de serviços básicos sociais, como saúde e educação, mas também na redução de risco de desastres e fortalecimento comunitário.

Também temos programas com jovens e do que chamamos de voluntariado de infraestrutura, que é elaborando leis, políticas e estruturas como redes de voluntários que permitem outras pessoas participarem do programa.

Por exemplo, durante a crise de ebola, o UNV trabalhou na missão da ONU e enviamos voluntários para Libéria, Serra Leoa e Guiné.

Tínhamos tanto voluntários em campo, que trabalharam com as comunidades para prevenir a doença, treinar os membros das comunidades. Mas também havia voluntários on-line que ajudaram a mapear os incidentes nesses países.

Como se chegou a essa parceria com a Samsung?

Durante a elaboração dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), uma das peças-chave foi o trabalho do UNV com seus parceiros, ONGs e organizações das sociedades civil, que trabalham com voluntários para engajá-los nesse processo.

O que descobrimos foi que voluntários podem fazer uma grande diferença na implementação dos ODS. Esses objetivos não serão alcançados apenas por organizações e governos, mas também por pessoas engajadas nas soluções de seus próprios países e comunidades.

Para incluirmos todos, precisávamos encontrar parceiros que vão nos ajudar a alcançar aqueles nunca antes alcançados. A parceria com a Samsung se encaixa no nosso guarda-chuva de inovações que fará com que se atinja essas pessoas.

Nós procuramos parceiros no setor privado por um ano e meio, por diferentes tipos de empresas. Conseguimos reunir 14 para trabalhar junto. Samsung é a primeira com quem estamos fechando essa parceria, mas exploramos coalizões com outras também.

Por que a Samsung?

Como somos uma agência pequena, se comparada às outras da ONU, fomos atrás de empresas com experiência em parcerias com a organização e a Samsung se encaixou.

Em segundo lugar, quando observamos o papel da tecnologia nos ODS, nos ajudando a alcançar mais pessoas, ela ocupa um lugar de destaque e a Samsung é uma das líderes globais nessa área.

Por fim, também havia um interesse da própria empresa em trabalhar com agências como nós para incentivar o voluntariado entre os funcionários.

Que mudança o voluntariado pode trazer para o mundo?

Não é uma solução nova. Voluntários são catalisadores da mudança. Nós podemos trabalhar com algo que já é conhecido, o espírito de solidariedade, de ajudar os vizinhos, e encontrar soluções junto com as comunidades.

O voluntariado é uma solução para alcançar os ODS. Não é a única, mas é algo comprovado. Na pandemia de HIV, foram os voluntários, as mulheres nas comunidades que fizeram a diferença. Em terremotos, as primeiras pessoas a chegarem são os voluntários.

Ele faz a diferença. É um pouco otimista, mas quando se olha para a crise humanitária que passamos, para os desafios de desenvolvimento com tantas pessoas deixadas para trás, acredito que precisamos de muito otimismo.

Quais são os principais desafios para o voluntariado hoje?

Estamos explorando uma área para mensurar a contribuição dos voluntários, especialmente nos países em desenvolvimento. Queremos demonstrar empiricamente como essa diferença é feita.

Acho que é a única forma que formuladores de políticas públicas se convencerão da importância, sem sombra de dúvidas.


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