Folha de S. Paulo


'Toda profissão está mudando por causa da tecnologia', afirma futurista

"Se eu não for otimista, ninguém vai me chamar para dar palestras." Com esse pensamento, Jim Carroll observa muitos nichos para negócios de sucesso no Brasil. Ele aponta a agropecuária, que movimentou R$ 48 bilhões em 2014, como um deles.

O futurista veio ao Brasil para participar da WorldSkills 2015, a maior competição de ensino profissionalizante do mundo. Ele se disse inspirado ao ver tantos jovens se empenharem. "Eles são donos do futuro", afirma.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Jim Carroll durante entrevista exclusiva à *Folha*, no evento WorldSkills 2015, em São Paulo
Jim Carroll durante entrevista exclusiva à Folha, no evento WorldSkills 2015, em São Paulo

Carroll é palestrante e já foi chamado por empresas como Nasa, Walt Disney e Johnson & Johnson para falar sobre o que ele enxerga para o futuro. No evento, ele participou do Fórum de Líderes na quinta-feira (13).

Em entrevista exclusiva à Folha, falou sobre inovação e ensino técnico. Para ele, "as tecnologias estão empoderando as pessoas e é preciso profissionais com conhecimento específico".

Leia abaixo trechos da entrevista.

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Folha - O que faz um futurista?
Jim Carroll - Faço três tipos de eventos para empresas, sobre profissões, tendências e habilidades. Faço muitos eventos corporativos, como para Johnson & Johsnon e Walt Disney.
Também faço conferências para consumidores, quando, por exemplo, Samsung ou IBM me levam para falar com seus clientes para falar sobre futuro e inovação.

Como você se prepara para atender clientes tão diversos?
Eu faço muita pesquisa para poder prever para onde estamos indo e por que.
No caso da Nasa, falei sobre como o negócio espacial está mudando. Não é mais apenas os EUA e a Rússia, há muitos outros países.
Já para a Walt Disney, falei sobre as mídias digitais, a mudança no mundo da animação.

Que mudanças estão ocorrendo para empresas se preocuparem com o futuro?
Toda profissão, todo comércio está mudando por causa da tecnologia. Um exemplo é o paisagismo.
Hoje, em um jardim, digamos, com 25 sprinklers [pequenos chuveiros usados no combate a incêndios e para irrigar gramados], é possível controlar individualmente cada um de um tablet.
Além de ligar e desligar, o equipamento identifica onde está mais seco e precisa irrigar mais. Todos esses dados são acessíveis pelo tablet.

Como isso afeta os profissionais?
No século 21, todo adulto, não importa a área, precisa estar em um constante aprendizado. Não importa se é médico ou enfermeiro, a atualização precisa ser permanente.
E é muito importante o que chamo de "conhecimento no tempo certo", que é aprender a coisa certa, na hora certa.
Por exemplo, o setor de refrigeração e ar condicionado mudou. É mais do que dominar o aparelho, é preciso saber sobre tecnologia e informática. Agora, posso controlar o termostato da minha casa, em Toronto, com o meu celular.

Como o ensino técnico se insere nessa atualização?
O ensino técnico permite que se aprenda como trabalhar com essa tecnologia. Por exemplo, 55% da população mundial, se não me engano, estará morando em cidades nos próximos anos e não haverá muitos espaços verdes.
Para lidar com isso, será preciso criar cada vez mais jardins verticais. E para que o profissional domine os diferentes conhecimentos necessários, que vão além de jardinagem, o ensino técnico é uma saída.

Durante uma crise como a brasileira, essa especialização pode ajudar?
Com certeza! No Canadá, e acredito que no mundo todo, há uma falta de profissionais com conhecimentos técnicos.
Estou falando de encanadores, eletricistas e diversas outras áreas. Assim como a regulação do termostato, as tecnologias estão empoderando as pessoas e é preciso profissionais com conhecimento específico.

O que você vê para o futuro do Brasil?
Otimista, tenho que ser. Se eu não for otimista, se disser que tudo vai ficar mal, ninguém vai me chamar para dar palestras.
As pessoas também precisam escolher o otimismo. É preciso olhar para as tendências do futuro que fornecem oportunidades ao invés de focar o negativo.
Acredito que há grandes oportunidades para o crescimento de empregos, para as pessoas construírem negócios de sucesso. Há uma escassez global de comércio.

Em que áreas estão essas oportunidades?
Agricultura é um exemplo. Há muita inovação no que diz respeito ao genoma animal e fazendas inteligentes, que usam muita tecnologia.
A manufatura é outra área em que o Brasil é forte e há muita modernização. Da construção de protótipos até chegar ao mercado, está tudo muito rápido.

Como você observa o ensino técnico no Brasil?
Posso ver que o Brasil está se empenhando. O evento é enorme e os jovens estão muito focados. E essa é a chave, a próxima geração.
Eles são os donos do futuro e têm o poder de reinventar. Estou muito inspirado.

RAIO-X
JIM CARROLL

Idade
56

Carreira
Formado em contabilidade, trabalha com futurismo e inovação. Já deu palestras para Nasa, Walt Disney e Johnson & Johnson.


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