Folha de S. Paulo


'Há um plano para tornar o mundo um lugar melhor', diz cineasta britânico

"Temos uma ótima geração de jovens que adoraria mudar o mundo", afirma o britânico Richard Curtis, 58, que lidera o Project Everyone, uma série de iniciativas para divulgar os novos objetivos globais da ONU.

Curtis já dirigiu blockbusters como "Simplesmente Amor" e foi roteirista de "Um Lugar Chamado Notting Hill" e agora vai usar o cinema e várias personalidades para divulgar as novas metas que vão substituir os ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio).

Depois de 13 sessões de um grupo de trabalho com 70 países membros da Assembleia Geral da ONU, do qual o Brasil fez parte, a organização definiu os chamados ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), que envolvem diferentes temas, como mudanças no clima, saúde e educação.

Neste ano, os 17 novos objetivos passarão a valer. Como as antigas metas foram pouco conhecidas, Curtis toca o projeto que visa divulgação massiva de diversas formas durante a semana de 26 de setembro a 3 de outubro. "Os ODM foram como a estreia de um pequeno filme independente e queremos que as novas metas tenham a estreia de 'Jurassic World'", compara ele, referindo-se ao último longa da série dirigida por Steven Spielberg.

O inglês sempre esteve engajado em questões de relevância global, como o festival de música "Live 8", que pressionou os líderes mundiais para perdoar a dívida externa das nações mais pobres. Desde 2014, é responsável pelo Project Everyone.

Leia abaixo trechos da entrevista:

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Folha - O que é o Project Everyone?
Richard Curtis - É uma ação massiva para falar a todas as pessoas no mundo sobre as novas metas globais [ODS]. As últimas metas, os ODM, foram responsáveis por uma grande quantidade de benfeitorias, mas nunca se tornaram famosas o suficiente. Foram foram como a estreia de um pequeno filme independente e queremos os ODS tenham a estreia de "Jurassic World". Queremos alcançar 7 bilhões de pessoas em sete dias.

Qual é a importância dessas metas?
Muitas pessoas lutam por diversos assuntos e acreditam que o mundo está piorando. Os objetivos mostram que existe um plano para os próximos 15 anos para tornar o mundo um lugar melhor.
Líderes trabalharam para pensar como isso poderia ser feito e agora é um trabalho para nós, os 7 bilhões do planeta, realizarmos esses sonhos.
Foi incrível o efeito dos ODM. Fome e pobreza no Brasil caíram pela metade. Se observarmos a mortalidade infantil, esses foram os melhores 20 anos da história humanidade. O número de mortes de crianças com menos de cinco anos caiu de 12 milhões em 1995 para 5 milhões.

O que será feito para alcançar 7 bilhões pessoas?
Falar com você [jornalistas] é a primeira ideia. Basicamente, o que fizemos foi desmembrar todos os meios com que as pessoas se informam, tentando construir diferentes maneiras para distribuir esses objetivos pelo mundo.
Teremos um show no Central Park [Nova York] em 26 de setembro que vai ser transformado em um programa de TV e a BBC vai tentar vender em todo os cantos do mundo.
Também estamos produzindo a Radio Everyone, uma estação de rádio pop-up.
Uma publicidade será exibida em cinemas de 35 países. Os objetivos serão traduzidos na internet pela Wikipedia em 250 idiomas e temos uma grande parceria com Google. A maior aula do mundo será dada em escolas de 100 países. Outra iniciativa é um filme em que vamos juntar 17 das pessoas mais famosas do mundo para falar uma meta cada uma. Vamos pedir para seus seguidores e fãs repetirem essas metas.

Quem são essas pessoas famosas?
Essa é uma pergunta difícil para eu responder agora. Mas temos os artistas já confirmados para o show no Central Park, como Coldplay, Ed Sheeran, Beyoncé e Pearl Jam.
Há também Bono [Vox, da banda U2], Bill Gates, que se espera se engajem. Malala [Yousafzai, paquistanesa vencedora do Nobel da Paz] está envolvida.

Quais são os principais países participantes?
Estamos tentando contatar todo o mundo. Acabei de falar com o PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] e nós tínhamos 122 países no Google Hangout [plataforma de videoconferência].
Existem alguns países que nós estamos particularmente focados porque achamos que são importantes, como Índia, Brasil, Quênia.
É realmente um compromisso global e acho que temos uma ótima geração de jovens que adoraria mudar o mundo.

Como o Brasil está participando?
Temos algumas coisas emocionantes, mas não sei dizer todos os detalhes das parcerias. Estamos trabalhando com a agência de publicidade Africa, que vai criar uma grande campanha.
Conversamos com os grupos Porta dos Fundos e Los Bragas, para fazerem algo viral.
Estou realmente esperançoso e acredito que muitas pessoas no Brasil irão descobrir os objetivos e lutar por eles nos próximos 15 anos.

Como será organizada essa maior aula do mundo?
Trabalhamos junto com Ken Robinson. Acho que seu vídeo no TED [Tecnologia, Entretenimento, Design, nome da série de conferências] é o mais assistido de todas as dez edições. Com ele e uma agência de animação fizemos um pequeno vídeo de cinco minutos.
Vamos fazer em todas as línguas e terá também uma competição com professores de todo mundo para que inventem uma aula.
O que acontecerá, eu acho, é que o governo vai dizer às escolas 'aqui estão os vídeos' e pedir para que achem um momento em suas aulas durante a semana de 26 de setembro a 3 de outubro para falar a seus alunos sobre as metas.

Quem trabalha no projeto é voluntário? Como isso está sendo pago?
Isso sempre é uma questão complicada, mas o que posso dizer é que os famosos não estão sendo pagos.
Claro, há escritórios trabalhando em tempo integral e essas pessoas estão sendo pagas para isso, mas existe uma enorme quantidade de coisas sendo feita em troca de nada.

Raio X
Nome: Richard Curtis
Profissão: Cineasta
Trajetória: Trabalhou em blockbusters como "Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Simplesmente Amor". Engajado em questões globais, participou dos projetos Comic Relief e Live 8.


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