Folha de S. Paulo


Estudante vence competição com site para hospedar turistas com ribeirinhos

O estudante de engenharia naval José Adalberto Souza Jr., 19, embarcou no navio Grand Amazon em Parintins (AM), no domingo (28), com uma ideia na cabeça: criar um site nos moldes do AirBnB para conectar turistas aos povos da floresta, oferecendo hospedagem em casas de ribeirinhos e em aldeias indígenas.

Na viagem de dois dias até Manaus, o universitário viu seu projeto de turismo de base comunitária ganhar corpo. "Vamos conectar pela internet os turistas de todo o mundo com ribeirinhos, caboclos e indígenas propiciando uma verdadeira experiência amazônica", planeja.

Enquanto o navio deslizava a uma velocidade de 12 km por hora pelas águas turvas do Amazonas, o Rio Bnb, como a ideia foi apelidada inicialmente, evoluiu para Amazon Share, uma plataforma on-line de serviços turísticos desenvolvida em grupo e com auxílio de mentores.

Especialistas e potenciais empreendedores eram os passageiros do The Boat Challenge, desafio de iniciativa da Coca-Cola para promover startups focadas em soluções para problemas de saúde, educação e ambiente. "Nossa ideia foi reunir potenciais empreendedores locais para propor soluções sustentáveis para Manaus e região", explica Pedro Massa, diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola.

Os 34 competidores interagiram com mentores de áreas como gestão, finanças e tecnologia de informação numa maratona para desenvolver modelos de negócios.

Após mais de 50 horas de "encubação" a bordo do navio, o site Amazon Share saiu como vencedor do desafio. Adalberto ganhou quatro "sócios" durante o The Boat Challenge, outros empreendedores que tinham ideias convergentes e se juntaram a ele.

SÓCIO GIGANTE
O projeto vencedor vai receber "seed money", investimento semente garantido pela Coca-Cola para fazer a startup de turismo sustentável sair do papel. "É um negócio social com potencial de escala e de impacto", diz Massa. "Vamos apoiar o desenvolvimento do site e a formatação final do modelo de negócio."

O Amazon Share agora será refinado ao longo de seis meses, em processo de aceleração no Impact Hub de Manaus, rede global de empreendedores de impacto.

Adalberto vai retornar as aulas na Universidade do Estado do Amazonas com uma grande aventura de férias para contar. "Parece sonho ter virado sócio da Coca-Cola numa ideia que vai gerar renda e mudar a vida da população ribeirinha do meu Estado."

Entre as experiências amazônicas a serem oferecidas pela futura startup do universitário estão dormir em rede em casas de caboclos e ribeirinhos, fazer farinha de mandioca, pescar nos igarapés..

BANHEIROS SECOS
Outras quatro das 34 ideias incubadas na The Boat Challenge foram selecionadas para seis meses de aceleração pelo Impact Hub. Entre elas, o projeto de uma startup que pretende espalhar banheiros secos pela região amazônica.

Enquanto o navio avançava rio acima, o administrador de empresas Carlos Silva, 36, desenhava a bordo do Grand Amazon um modelo de negócio para conter a poluição de suas águas disseminando "privadas secas".

Trata-se de uma tecnologia social de baixo custo, na forma de caixotes de madeira que substituem o vaso convencional. No lugar de água para descarga é usado pó de serragem, que dá início a um processo de compostagem das fezes. Cada caixa custa, em média, R$ 50.

"Os moradores de casas flutuantes e ribeirinhos jogam fezes no rio Amazonas", lamenta Silva. Ele se confrontou com o problema após comprar uma casa flutuante para lazer em vez de um sítio.

A ideia é montar um negócio para distribuir gratuitamente os banheiros secos. "Será um projeto sustentável, já que vamos distribuir as privadas e também recolhê-las. Os dejetos vão ser depositados em um terreno por seis meses para virar adubo."

O produto final será vendido e reinvestido no próprio negócio. Silva e sua equipe formada no The Boat Challenge vão ter seis meses para provar a viabilidade do projeto e atrair investidores.


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