Folha de S. Paulo


'O futuro da educação é o presente', diz educadora brasileira no México

A 10ª edição do Fórum Econômico Mundial sobre América Latina dedicou um painel aos desafios educacionais para promover o desenvolvimento e diminuir as desigualdades sociais na região.

Entre os especialistas que debateram sobre o Futuro da Educação nesta quinta-feira, 7, estavam o vice-ministro da educação do México, Efrén Rojas, que falou sobre a reforma do ensino em curso no país, e a brasileira Cybele Amado de Oliveira, do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), que relatou sua experiência como empreendedora social na área de educação em comunidades vulneráveis do Brasil.

Benedikt von Loebell/Divulgação/Fórum Econômico Mundial
Cybele Amado de Oliveira, do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa
Cybele Amado de Oliveira, do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa, durante evento no México

"O futuro é o presente", entende a educadora baiana que ressaltou a importância de conhecer o "chão da escola" para construir um processo de valorização da figura do educador e de melhoria do ensino.

"Trabalhamos hoje no Brasil projeto com três pilares em nosso projeto: formação continuada do professor no seu contexto de trabalho, produção de conhecimento e mobilização social", explicou Cybele.

A ganhadora do Prêmio Empreendedor Social de 2012, conferido pela Folha, participou do fórum na Riviera Maya, no México, como convidada da Fundação Schwab.

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Integrante da rede mundial de líderes sociais capitaneados pela organização, Cybele se juntou a outros especialistas que discutiram uma nova agenda para a América Latina, na qual a educação foi colocada como base para as transformações.

"Professores protagonistas fazem a diferença", disse a brasileira. "Eles devem ser encarados como profissionais da educação e respeitados e levados em conta como tal. Não podem ser tratados como meros receptores de receituários impostos."

Ela cita o exemplo do Icep, que atinge hoje 4.000 professores e cerca de 200 mil crianças em Estados como Bahia, Alagoas e Pernambuco, para mostrar como funciona um processo de melhoria da qualidade de ensino baseado em um conceito intitulado "territórios colaborativos para a educação".

Trata-se de promover o real envolvimento de todos os atores que podem influir para melhorar a educação na sua região - governo, sociedade civil, famílias, professores e demais profissionais de ensino. "Atuamos em áreas de alta vulnerabilidade social e estamos provando que os municípios que aderiram viram suas escolas públicas passarem de piores para melhores avaliadas no ranking do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] no Estado da Bahia", exemplifica Cybele.

Ela tocou uma plateia de empresários, empreendedores, autoridades e especialistas em educação reunida no fórum, ao relatar experiências como as "tertúlias literárias" em comunidades rurais do semiárido brasileiro, onde pais leem para os filhos romances como "Os Miseráveis", clássico de Victor Hugo. "É importante promover sempre esse convite à aprendizagem, valorizando esse tipo de atividade em que o valor do saber é compartilhado."

EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

Além da brasileira, participaram do painel sobre educação Casimira Rodriguez, ex-doméstica que chegou a ministra da Justiça da Bolívia, um exemplo do poder transformador do conhecimento. "Foi um processo muito longo, que acabou me levando para a pasta da Justiça do meu país, mesmo não sendo uma advogada mas uma mulher do povo", disse ela, enfatizando que a educação é um direito humano fundamental.

Já o vice-ministro mexicano, destacou a reforma educacional ora em curso no país, "centrada no papel da sociedade como alavanca para desenvolvimento econômico". "Ser professor passou a ser uma profissão de Estado. Estamos mudando nosso arcabouço legal para definir o papel do educador e tratar melhor esses profissionais", afirmou Rojas.

O vice-ministro mexicano conclamou os empresários e o setor financeiro do México e de toda a América Latina como um todo a se comprometer com a melhoria do sistema educacional. "Isso vai beneficiar a todos. Por isso, estamos buscando alianças estratégicas com todos aqueles que possam contribuir para um ensino de melhor qualidade."

A experiência norte-americana do Teach for America também mereceu destaque no painel.

"A ideia é recrutar o que há de melhor no mundo acadêmico para atuar em comunidades carentes", explicou Mike Feinberg, da Kipp Foundation, sobre o projeto que leva voluntários de Harvard, Yale e outras universidades de ponta dos EUA para ensinar em escolas públicas.

Feinberg defendeu ainda o formato de PPPs (parcerias publico-privadas) na gestão de escolas, como um modelo a ser seguido para a criação de unidades modelos. "Temos hoje nos Estados Unidos diversas ONGs recebendo dinheiro público para fazer construir e administrar escolas públicas", disse ele sobre a rede de ensino de sua fundação criada em 2000 com tal missão.


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