Folha de S. Paulo


ONG e religiões assinam acordo para combater o tráfico humano no mundo

No início desta semana, no Vaticano, líderes religiosos assinaram um acordo com objetivo de erradicar a escravatura moderna e o tráfico humano até 2020. Segundo estimativa da ONU (Organizações das Nações Unidas), 800 mil pessoas são vítimas de tráfico humano no mundo todos os anos.

Esse acordo resultou na criação da Global Freedom Network (GFN), que reuniu o bispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler das Academias Pontifícias das Ciências e das Ciências Sociais, representando o Papa Francisco; Mahmoud Azab, em nome do grande imã de Al Azhar, a instituição mais importante do islã sunita; bispo David John Moxon da Igreja Anglicana; e o fundador da Walk Free Foundation, Andrew Forrest, principal parceiro da GFN.

Em declaração conjunta, os quatro representantes fizeram um apelo para os "povos de fé", aos seus líderes e a todos os governos e povos pelo combate do tráfico humano e da escravatura moderna. Vale lembrar que o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, organizada pela Igreja Católica, também é o tráfico humano.

Segundo a declaração, a exploração física, econômica e sexual de homens, mulheres e crianças condena 30 milhões de pessoas à desumanização e a degradação. Segundo a organização, as vítimas traficadas, geralmente, estão em locais de prostituição, em fábricas e em quintais, em embarcações de pesca e em estabelecimentos ilegais, entre outros.

O acordo definiu o tráfico humano e a escravatura moderna como supressão sistemática da liberdade de um indivíduo. Ainda listou os tipos de escravatura moderna: tráfico humano, escravatura, trabalho forçado, crianças em conflitos armados, prostituição infantil, piores formas de trabalho infantil, servidão por dívida e casamento forçado.

Andrew Forrest, australiano, é o fundador da Walk Free Foundation e empresário, presidente da Fortescue Metals Group. Forrest falou com a Folha, por e-mail, sobre a criação da Global Freedom Network.

Folha - Como vocês pretendem erradicar o tráfico humano até 2020?
Andrew Forrest - O acordo do memorando da Global Freedom Network destaca um plano de cinco anos, com 21 objetivos no primeiro ano, nove no segundo ano, cinco no terceiro ano, quatro no quarto e nove no quinto. Isso são 48 objetivos gerais até 2019. É um programa ambicioso com alguns resultados muito claros. Algumas das principais ações para o primeiro ano desenvolverão planos de ações.

Quais são os planos de ações?
Esses planos envolverão todas as religiões mundiais tomando medidas corretivas sempre que necessário e mobilizando seus jovens para apoiar os planos para erradicar a escravidão moderna. São 162 governos para endossar publicamente o fundo global, com 30 chefes de Estado que endossarão publicamente o fundo até o final de 2014. O G20 condenará a escravidão moderna e o tráfico de pessoas e adotará uma iniciativa antiescravidão e antitráfico de seres humanos, além de apoiar o Fundo Global. Os líderes políticos trabalharão em prol de descobrir provas da moderna escravidão. 50 grandes empresas multinacionais, cujos CEOs são pessoas de fé, ou de boa vontade, se comprometeram a não utilizar mão-de-obra escrava. E, por fim, famílias, escolas, universidades, igrejas e instituições para educar sobre o que é a escravidão moderna, como relatá-la e o poder de destruição das atitudes sociais prejudiciais, preconceitos e sistemas sociais em relação à escravidão moderna.

Qual será o papel do Vaticano na meta?
Junto com outras religiões mundiais que participam, o Vaticano concordou especificamente em desenvolver planos de ação para erradicar de suas cadeias de abastecimento e de investimentos a moderna escravidão, além de tomar ações corretivas quando necessário e de mobilizar seus jovens para apoiar os planos de erradicação à escravidão moderna.

Há metas de ampliar o projeto para outras religiões?
A Global Freedom Network é uma rede global baseada na fé, que foi lançada com compromisso absoluto da Comunhão Anglicana, da Igreja Católica e da fé muçulmana. A associação é aberta e outros líderes religiosos serão convidados a participar e apoiar essa iniciativa.

Quanto será investido na campanha?
Cada parte envolvida na Global Freedom Network vai levantar fundos para prever os custos iniciais de configuração e um orçamento operacional sustentável.

Com nasceu a ideia?
A Global Freedom Network tem suas raízes nas minhas visitas ao Vaticano e ao Palácio de Lambeth e no compromisso declarado pelo Papa Francisco em combater o tráfico humano e a escravidão moderna. Sou fundador do Walk Free Foundation, que foi lançado em maio de 2012, que tem como missão acabar com a escravidão moderna em nossa geração, mobilizando um movimento ativista global, gerando a investigação da mais elevada qualidade, contando com negócios e aumentando os níveis sem precedentes de capital para impulsionar a mudança nesses países e indústrias que carregam a maior responsabilidade pela escravidão moderna hoje.

Como você enxerga o Brasil no combate ao trabalho escravo?
Desde 1995, mais de 46 mil vítimas foram resgatadas da escravidão no Brasil. E, em alguns aspectos, o país é um modelo para o mundo, mas também pode fazer mais. Especificamente, é realmente importante ser vigilante em 2014, porque o aumento maciço na construção e do turismo em torno da Copa do Mundo oferecem oportunidades para a exploração de pessoas vulneráveis.


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