Folha de S. Paulo


Pneus descartados ganham nova funcionalidade com o artesanato; aprenda a fazer um puff com material reciclado

As novas tecnologias e o aumento da população, do consumo e do número de veículos nas ruas têm contribuído para o maior descarte de pneus. Só em 2013 foram produzidos 68,8 milhões de unidades no Brasil, um aumento de 7% nas vendas em relação ao ano anterior, o que dá o título de sétimo maior produtor mundial ao país, segundo a Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), representando 1% do PIB (Produto Interno Bruto).

"Um dos principais problemas [que o pneu descartado de forma irregular traz] ao meio ambiente é a proliferação da dengue e da malária, além da poluição visual", diz Carlos Lagarinhos, doutorando em engenheira metalúrgica e de materiais pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).

Segundo ele, o maior consumo de pneus, que não têm tempo determinado para degradação, acarreta uma série de danos ao meio ambiente. Entre eles estão o aumento do volume de material destinado irregularmente a aterros e o maior consumo de energia e recursos naturais, além de poluição do ar, das águas superficiais e dos lençóis freáticos e do esgotamento de aterros e o aumento de custos no processo de coleta.

Porém, com a aprovação da Resolução 258/99 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), em 2002, os fabricantes e importadores de pneus ficaram responsáveis pela coleta e destinação do material inservível (que não tem mais condição de ser utilizado para circulação ou reforma). Em 2009, houve uma revogação da resolução, determinando que a cada pneu vendido no mercado de reposição um inservível deve ser reciclado.

De acordo com a Reciclanip – organização voltada para a coleta e destinação de pneus inservíveis no país –, em 2013 68 milhões de pneus inservíveis de diferentes nacionalidades foram coletados para reciclagem.

Para quem tem pneu inservível em casa, a Reciclanip, composta por 11 fabricantes brasileiros, mantém 824 pontos de coletas. Encontre o ponto mais próximo aqui. A Abidip (Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus) mantém parcerias com as lojas de revenda que fazem o encaminhando para reciclagem. Veja a lista de pontos de coleta aqui.

No entanto, geralmente a troca de pneus é feita em lojas ou borracharias, que devem, por lei, fazer o encaminhando adequado desse material para a reciclagem.

O pneu, considerado um combustível alternativo, pode ser reaproveitado na engenharia civil, na geração da borracha e de energia, no asfalto modificado com borracha e na reutilização do aço.

ARTE

Além do reaproveitamento para a indústria, o pneu ganha formas diferentes e criativas nas mãos de artesãos brasileiros.

Daniel Beato começou a trabalhar com materiais reaproveitados durante a graduação em desenho industrial na faculdade Belas Artes, em 2001. "Pensei em usar materiais que eu pudesse encontrar em qualquer lugar e coletar de graça", conta.

Beato, filho de uma professora de artes, sempre foi incentivado a criar, mas a ideia de trabalhar com pneus nasceu por acaso. "Coloquei uma tampa em cima de dois pneus e percebi que podia ser um banco", relembra. Daí em diante, ele começou a trabalhar apenas por experimento com o amontado de pneus que tinha na garagem.

Após dois anos criando e vendendo as peças para os amigos, Beato levou sua produção para uma exposição, onde foi convidado por um representante de uma marca de pneus para levar o projeto ao sertão da Bahia, onde ofereceria oficinas de capacitação para jovens. "Tive a certeza que poderia multiplicar o conceito", diz. O projeto Arte em Pneus virou ONG, rodou sete estados brasileiros e capacitou mais de 400 pessoas gratuitamente.

Hoje, a iniciativa perdeu a parceria, mas continua capacitando pessoas, porém cobrando pelo curso. Sempre com intuito de ajudar o próximo, alguns alunos que já passaram pela capacitação e agora trabalham como autônomos nos cursos. Com um lucro de 50%, Beato produz bancos, cadeiras, vasos, lixeiras, banquetas e canteiros para paisagismo –são mais de 20 peças feitas com pneus.

"Economizamos a extração de outros materiais e de energia na produção. Esse conteúdo é transformado artesanalmente, é a terapia da arte", acredita o idealizador do projeto.

PUFF DE PNEU REAPROVEITADO

A artesã Rose Aparecida Santos trabalha com artesanato há dez anos e, em 2013, começou a desenvolver peças com materiais reutilizados: pneus, pallets e caixotes.

Rose fez as primeiras peças com pneus apenas para sua casa. Depois passou a vender na internet e hoje tem um lucro de até 70% com cada puff feito com o material reaproveitado, que custa de R$ 100 a R$ 250. "É importante tirar esse material da rua e dar um novo destino a ele", acredita.

A artesã, fundadora da Rose Casa e Decoração, ensina passo a passo como fazer um puff de pneu com material reciclado.

MATERIAIS:

1 pneu de qualquer tamanho
Fita métrica
Madeira MDF cortada em círculo
Furadeira
4 rodas de silicone
Chave de fenda
4 parafusos com porcas
40 metros de corda sisal
500 g de cola quente
Seladora de madeira
Cola de sapateiro
Pincel
Espuma de colchão
2 metros de tecido da sua preferência
Lápis
Tesoura

Dica: na decoração, se quiser substituir a corda, pinte o pneu com três demãos de tinta esmalte da cor de sua preferência.

Rose Aparecida Santos é artesã da Elo 7 e fundadora da Rose Casa e Decoração
Site: www.elo7.com.br/rosecasaedecoracao


Endereço da página:

Links no texto: