Folha de S. Paulo


Metodologia coloca em xeque a relação trabalho-dinheiro

Ajudar as pessoas a reconstruir a relação trabalho-dinheiro, tomando como base seus valores internos. Essa é a proposta do workshop "Comércio Sagrado", inspirado no livro de Matthew e Terces Engelhart, que a educadora Vanessa Moutinho, 28, junto com a economista e empreendedora social Romina Lindemann, 32, traz novamente a São Paulo após edições realizadas também no Rio de Janeiro.

A metodologia, que considera que os negócios podem trazer tanto sucesso financeiro quanto satisfação espiritual, utiliza tecnologias sociais inovadoras, como Comunicação Não-Violenta, Pedagogia da Cooperação, Liderança Colaborativa, entre outras, para propor uma nova abordagem em gestão de Recursos Humanos.

Isabela Baptista/Divulgação
Workshop traz atividades para co-criar relações saudáveis com dinheiro e 'reconectar participantes com talentos e valores
Workshop traz atividades para co-criar relações saudáveis com dinheiro e 'reconectar participantes com talentos e valores'

"Mostramos, por exemplo, como o empreendedorismo social se apresenta como resposta para a junção dos saberes sobre sustentabilidade e concepções holísticas", afirma Moutinho.

O programa, que tem duração de 16 horas, é baseado em três pilares: empoderamento por meio do despertar de talentos; expansão da cultura de colaboração e abundância; e reconstrução da relação com o dinheiro e valores humanos.

Na primeira parte, os participantes refletem sobre as justificativas que regem o trabalho em que atuam. Em seguida, vivenciam a criação de um empreendimento social e outras práticas para entender como "a construção da comunidade é a solução para o paradigma da competição." Por último, as ações visam desconstruir a imagem do dinheiro como vilão e mostrá-lo como um veículo para a materialização de sonhos e talentos.

Para o professor André Camargo, 40, que participou do workshop em fevereiro, esse novo paradigma econômico vai ao encontro das mudanças que estão ocorrendo em outras áreas como a educação.

"É uma abordagem que nos incentiva a focar no que temos a oferecer e não no que o outro pode dar. Seria interessante que os temas fossem estudados mais profundamente, mesmo assim considero o curso esclarecedor", diz.

A empreendedora Patrícia Graf, 25, utilizou as práticas aprendidas durante o curso na gestão do hostel que mantém em São Paulo. "Essa inversão, onde o lucro deixa de ser o dinheiro e passa a ser benefício que você tira do negócio em qualidade de vida e trocas humanas, é muito interessante e tem resultados que são agregados ao financeiro."

Para o educador e economista do Pacs (Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul) Marcos Arruda, 72, estamos no limite da elasticidade de um sistema econômico centrado no lucro.

"O mercado é incapaz de organizar a economia de serviços frente às necessidades da população. As empresas fabricam com base nas ofertas e não na demanda e com isso geram produtos e procuram vendê-los, sejam eles úteis ou não. Isso é o contrário do significado da palavra economia, que vem do grego e significa 'gestão da casa', onde o mais importante deveria ser as pessoas que habitam essa casa", explica.

"Por isso agora há esse movimento imenso de construir novas economias que valorizam o trabalho humano para além de mercado."

As duas facilitadoras já realizaram 12 workshops, em lugares como o Hub Escola, que contaram com a participação total de mais de 200 pessoas. O próximo está marcado para os dias 29 e 30 de junho, em São Paulo.

"As pessoas passam a entender que onde os seus talentos e as necessidades da sua comunidade se encontram é onde está a sua vocação. Com isso, elas aumentam sua capacidade de agir no mundo", afirma a educadora.

Para mais informações sobre o curso, que custa entre R$ 360 e R$ 475, acesse o site.


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