Folha de S. Paulo


Correios e Museu da Pessoa premiam melhor história de vida

Cartas reduzem distâncias. Não apenas as geográficas, mas sobretudo as afetivas, como bem já mostrou o filme "Central do Brasil" (1998), em que a personagem interpretada por Fernanda Montenegro escreve as correspondências de analfabetos na estação de trem do Rio.

No ano em que celebram 350 anos de serviços postais no país, os Correios, em parceria com o Museu da Pessoa, lançam hoje a campanha "Vá Mais Longe, Descubra o Brasil". Seu objetivo é descobrir histórias de brasileiros e brasileiras de mais de 60 anos que em determinada época não contavam com meios como a internet para se relacionar com quem estava longe.

A ideia é que os participantes busquem testemunhos de pessoas cujas vidas tenham sido modificadas por uma carta, um telegrama ou uma encomenda enviada pelo correio. As histórias que forem cadastradas até o dia 7 de junho no portal do Museu da Pessoa vão concorrer a um iPad com tela Retina Wi-Fi 16GB, que premiará a melhor delas.

Além disso, os protagonistas dos melhores "causos" serão visitados pela equipe do museu para gravar entrevistas em vídeo. O regulamento e as instruções para enviar os relatos estão no site.

A campanha integra o projeto "Memória dos Brasileiros", criado em 2006 pelo Museu da Pessoa. A inciativa já registrou mais de 300 histórias em 38 cidades de 13 Estados, as quais traduzem um país em transformação.

'CAUSOS'

Divulgação
Monja Coen foi uma das participantes
Monja Coen foi uma das participantes

Do acervo do projeto faz parte, por exemplo, o depoimento da Monja Coen, publicado em setembro de 2009. A líder espiritual budista recorda as circunstâncias em que seus pais a levaram para a Europa quando tinha 13 anos, para que se esquecesse do namorado com o qual pretendia se casar.

"Era pra ficar um mês, ficamos três meses e eram só cartas e cartas, tem pilhas de cartas de amor", lembra. "Ele pra mim, eu pra ele." Na volta, o enlace matrimonial foi inevitável. No entanto, quando ela estava com 16 anos - e grávida -, os dois se separaram.

Por sua vez, a pintora Cristina Crispin Leite, filha de mãe brasileira e pai americano, valeu-se dos carteiros para matar as saudades do Brasil no tempo em que morou no Havaí, na década de 70 - leia o texto completo no site.

"Relembro nossa alegria e a ansiedade para saber quantas cartas cada um havia recebido, entre dezenas de envelopes verde-amarelos que chegavam em casa todos os dias. Dessa recordação e do meu carinho pelos Correios, que faziam a ligação com as pessoas queridas, surgiu a tela 'Correio Central', mais de 20 anos depois."

O costume de usar esse meio de comunicação muitas vezes está relacionado a outro hábito - o de colecionar selos. O professor José Luiz Peron conta que começou a sua coleção quando buscava correspondências de seus pais e juntava os selos que caíam das cartas das pessoas.

Peron tornou-se funcionários dos Correios e lecionou filatelia na universidade da empresa, especializada em administração postal. Mas a atividade a que tanto se dedica também tem suas adversidades.

"O maior inimigo dos filatelistas são as mulheres, porque os selos consomem tanto o tempo e o interesse dos colecionadores que elas acham que não estamos lhes dando tempo e atenção", afirma. Vejo o texto completo. "Numa charge famosa aparece uma mulher de malas, indo embora de casa e dizendo 'Não sei por que eu fui pedir pra ele escolher entre mim e a filatelia'."


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