Folha de S. Paulo


Etapa final do Enem tem teste de fogo com bateria de questões mais difíceis

Os inscritos no Enem fazem neste domingo o segundo e último dia de prova do exame. Encaram, agora, as duas partes objetivas mais difíceis, após superada a redação.

No domingo passado, os participantes tiveram de responder, no total, a 90 questões das áreas de ciências humanas e linguagens, além de escrever a redação. O tema "Desafios para Formação Educacional dos Surdos" causou polêmica pela complexidade para os estudantes, embora tenha suscitado a avaliação positiva sobre a pertinência da discussão.

Além disso, a coletânea oferecida na prova para municiar os textos trazia gráficos sobre a presença de surdos na educação que nem sequer o Ministério da Educação sabia explicar. O gráfico dá a entender que esse público estaria deixando a escola.

RETA FINAL DO ENEM - Médias por áreas

Mas, segundo reportagem da Folha desta sexta mostrou, esse é apenas um entre dois outros fatores. Há ainda a queda no número de alunos que adquirem a surdez ao longo da vida e a própria transição demográfica no país.

O exame trará, neste domingo, as provas de ciências da natureza e matemática, com 45 questões cada. Nas três últimas edições do Enem, foram essas as provas com menores médias gerais, o que indica a dificuldade dos alunos com esses conceitos.

Em 2016, ciências da natureza (que inclui questões de biologia, química e física) teve nota média 11% mais baixa que a de ciências humanas, bloco em que os estudantes alcançam as melhores notas. A primeira teve média de 477, contra 533 em humanas.

RETA FINAL DO ENEM - Alunos com nota máxima (1.000) na redação

Matemática tem historicamente as menores notas, mas a média de 2016 (489,5) ficou superior à de ciências da natureza. O desempenho em matemática, entretanto, é o que apresenta o maior abismo entre as notas mínimas e máximas obtidas pelos estudantes.

Esse é o primeiro ano em que matemática e ciências da natureza caem no mesmo dia. O governo fez a alteração ao mesmo tempo que passou a prova para dois domingos. Para o ministério, os temas tem maior correlação cognitiva para estarem no mesmo dia.

De acordo com o professor Edmilson Mota, coordenador do Etapa, a administração de tempo se tornou ainda mais difícil com a mudança. "Com provas com maior semelhança agrupadas, tem muitas questões de álgebra, contas e fica mais cansativo", diz.

Os candidatos terão 4h30 para fazer as 90 questões. O que indica uma média de três minutos por questão.

Inscritos por ano - Pela primeira vez, provas serão aplicadas em dois domingos

Aluna do 3º ano do colégio Vicente Palotti, na Vila Matilde, zona leste, Giovana Giardini, 17, tem essa consciência. "O maior desafio é administrar o tempo, porque tem muita leitura", diz ela, que realizou vários simulados inspirados no Enem e participou da última edição para treinar.

A estudante diz que o novo formato da prova, em dois domingos, trouxe um pouco de alívio. "Ajudou muito, me sinto muito menos pressionada, porque dá um tempo para respirar entre uma prova e outra", diz ela, que planeja cursar Rádio e TV.

O grande problema com relação ao tempo é que há no mesmo dia um grande número de questões que exigem cálculos, de matemática e física, concorda o professor de matemática Eduardo Izidoro, do Cursinho da Poli. "Tem o benefício de ser muitas vezes temas correlatos, mas não é fácil manter a atenção durante 4 h e meia de prova".

Perfil dos inscritos - Em %

Izidoro indica que a prova do Enem, sobretudo nesse formato atual, exige uma estratégia clara do participante. Vale identificar as questões mais fáceis e fazê-las antes, para sobrar mais tempo para a parte mais complexa.

"Abrir a prova e localizar gráficos e tabelas, que muitas vezes são questões de interpretação, podem facilitar para avançar nas questões mais fáceis", diz. "Em uma segunda ou terceira leitura, o aluno vai encontrar questões mais difíceis e trabalhosas, mas ai já garantiu acertos e a 'coerência' das respostas".

Com o modelo de elaboração e correção da prova, estudantes que acertam questões difíceis, mas erram fáceis, recebem nota menor do que aqueles que mantém a tal da "coerência" no desempenho.

No Enem, portanto, não vale apenas a quantidade de questões que o aluno acertou. Mas, também, quais ele conseguiu. De todo modo, não é para deixar nenhuma em branco, afirmam professores. O gabarito oficial só sai na quinta (16). As notas, por sua vez, só serão divulgadas em janeiro de 2018.

A nota do Enem é usada para ingresso de praticamente todas as universidades federais. A USP, por exemplo, seleciona parte dos alunos também pelo exame. O exame recebeu 6,7 milhões de inscrições. No primeiro dia, 30% se ausentaram.


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