Folha de S. Paulo


Rio sedia Olimpíada Internacional de Matemática com filho de ditador sírio

Mais de 600 estudantes do ensino médio, vindos de 111 países, vão passar a tarde desta terça (18) e a quarta (19) debruçados sobre provas de matemática, num hotel na Barra da Tijuca. A perspectiva, mesmo num dia frio e chuvoso como o de hoje no Rio, pode não parecer animadora para os alunos em geral, mas estes jovens lutaram para estar aqui.

São os atletas da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), que acontece pela primeira vez no Brasil. A competição anual, iniciada em 1959 –então com apenas sete países– está em sua 58ª edição, com participação recorde (623 estudantes).

"A IMO é a maior, mais antiga e mais prestigiosa olimpíada científica para alunos do ensino médio", segundo o matemático e colunista da Folha Marcelo Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). O instituto é organizador do evento no Brasil, em parceria com a Sociedade Brasileira de Matemática.

As provas consistem de seis questões (três a cada dia), elaboradas por um júri internacional. Na quinta (20) e na sexta (21) acontece a correção dos problemas –nestes dias, os estudantes participam de atividades culturais no Rio. Os vencedores serão anunciados no sábado (22). Eles receberão medalhas de ouro, prata e bronze.

Leonardo Coelho/IMPA/Divulgação
Equipe brasileira que disputa a Olimpíada Brasileira de Matemática reunida no Auditório do BNDES
Equipe brasileira que disputa a Olimpíada Brasileira de Matemática reunida no Auditório do BNDES

Cada país participa com seis alunos, mas são permitidas delegações menores para países sem tradição na matemática. Também integram o time dois professores: o líder, que defende as respostas dos alunos para obter a melhor pontuação possível, e o vice-líder, que acompanha a equipe e trata de todas as questões práticas.

Metade da delegação brasileira já participou da IMO-2016, em Hong Kong, quando o país obteve sua melhor colocação (15° lugar): João César Vargas, 19 (de Passa Tempo - MG) e Pedro Henrique de Oliveira, 18 (Campinas) levaram medalhas de prata; George Lucas Alencar, 18, de Fortaleza, ganhou bronze. Os demais integrantes nesta edição são André Hisatsuga, 17 (São Paulo), Bruno Meinhart, 16 (Fortaleza) e Davi Sena, 17 (Recife).

A ausência de mulheres no time nacional se repete na maioria das delegações, e é um traço que os organizadores do evento querem mudar. Para estimular a presença feminina na competição, o Impa sugeriu a criação de uma premiação específica para as cinco estudantes que mais contribuírem para o resultado de suas equipes.

O Troféu Impa Meninas Olímpicas também homenageará a iraniana Maryam Mirzakhani, que morreu no sábado (15), nos Estados Unidos, vítima de câncer, aos 40 anos. Ela foi a única mulher a ganhar a Medalha Fields, considerada o "Nobel da Matemática". A cerimônia de abertura da IMO, na tarde de segunda (17), teve um minuto de silêncio em sua homenagem.

FILHO DO DITADOR SÍRIO

A edição brasileira da Olimpíada ganhou mais destaque após a revelação de que Hafez al-Assad, 15, filho do ditador da Síria, Bashar al-Assad, integra a delegação de seu país. A notícia foi dada pelo jornal "O Globo", que conversou com o estudante e afirmou que sua identidade foi confirmada pela organização do evento e pela Polícia Federal.

Procuradas pela Folha, ambas disseram que não comentariam. "Por questões de segurança, a Polícia Federal não irá se manifestar sobre o assunto", escreveu a assessoria do órgão.

No hotel que sedia os competidores e a competição, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), nada sugeria uma segurança especial por conta da presença de Assad. Havia um carro da Polícia Militar estacionado na rua e, no interior do prédio, seguranças privados que restringiam o acesso às pessoas cadastradas.


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