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Em crise financeira, Uerj faz vestibular com procura mais baixa em 18 anos

Jose Lucena/Futura Press/Folhapress
RIO DE JANEIRO,RJ,16.07.2017:VESTIBULAR-UERJ - Movimentação antes da primeira prova do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), no Rio de Janeiro (RJ), na manhã deste domingo (16). Os portões foram fechados às 9h05, dando cinco minutos de tolerância aos estudantes. Apesar da falta de repasses e atrasos de pagamentos ameaçarem o início do próximo semestre letivo, muitos ainda acreditam no ensino da instituição. (Foto: jose lucena/Futura Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Movimentação antes da primeira prova do vestibular da Uerj na manhã deste domingo (16)

Em meio a uma grave crise financeira, a Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) iniciou neste domingo (16) o vestibular para o ano de 2018, com o menor número de concorrentes desde que adotou o modelo atual de provas, há cerca de 20 anos.

Foram 37.195 inscritos, menos da metade das 80.248 inscrições registradas em 2016. Segundo estatísticas divulgadas no site da Uerj, é o menor número desde 1999, quando começaram a ser compilados os dados sobre número de inscritos.

Do total de inscritos, 10,38% (ou 3.680 candidatos) não compareceram aos locais de prova neste domingo. O percentual de ausência é maior do que os 6,30% verificados em 2016. Foi a primeira prova desta seleção –os candidatos farão um segundo exame em 17 de setembro.

O concurso sofreu também com a suspensão de exames para admissão no Corpo de Bombeiros, que costumam ser feitos junto com o vestibular da Uerj, diante da falta de perspectivas de contratação de novos servidores para a área.

"O maior problema nem é o baixo número inscritos, mas a grande queda com relação ao ano passado", disse o diretor do Departamento de Seleção Acadêmica da universidade, Gustavo Krause. "Isso reflete o ataque que o governo do estado está fazendo às universidades estaduais, às escolas técnicas e à cultura."

Sem dinheiro em caixa, o governo tem priorizado pagamentos a servidores das áreas de segurança e da educação, que recebem salários até o 14º dia útil do mês seguinte. As universidades estão subordinadas à área de Ciência e Tecnologia e, por isso, convivem com atrasos.

Esta semana, professores e técnicos da UERJ receberam a primeira parcela, de R$ 550, do salário do mês de maio. O 13ª de 2016 ainda não foi pago..

"As pessoas estão desesperadas, tem gente que está entregando apartamento para ir morar na casa da mãe aos 50 anos. Tem muita gente ficando deprimida", lamentou Krause.

A situação gera problemas também para os que dependem de serviços prestados pela universidade, como o Hospital Universitário Pedro Ernesto, que está funcionando com apenas 200 dos 512 leitos.

Em assembleia realizada esta semana, os servidores da universidade decidiram aguardar pela regularização dos salários até 1º de agosto. "Se não pagarem, não daremos início às aulas", disse a presidente da Associação dos Docentes da Uerj, Lia de Mattos Rocha.

Com o calendário atrasado por greves passadas, a universidade encerrou agora o período relativo ao segundo semestre de 2016. Em agosto, daria início ao primeiro semestre de 2017.

A crise motivou pedido de exoneração do secretário estadual de Ciência e Tecnologia (pasta à qual a UERJ está subordinada), Pedro Fernandes, na última terça (11).

"Não acho correto que um professor de uma escola técnica ou da UERJ, por exemplo, receba depois que o de uma escola estadual de ensino médio", disse ele à Folha na ocasião.

Ao lado dos servidores da área de segurança, os outros servidores da educação do estado têm sido privilegiados no calendário de pagamentos de salários, recebendo no 14º dia útil do mês seguinte.


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