Folha de S. Paulo


Na hora de escolher o curso, é preciso conhecer a reputação da instituição

Não basta escolher um curso na área de neurociência por estar na moda ou ter um nome atraente. Para evitar arrependimentos, é preciso conhecer a reputação da instituição, os objetivos das aulas e quem são os professores.

"O aluno vai contratar um serviço complexo que vai demandar investimento financeiro e esforço pessoal. É fundamental que faça uma compra bem planejada, não por impulso", afirma Edson Crescitelli, diretor de pós-graduação da ESPM-SP.

Saber se a instituição de ensino tem tradição na área é o primeiro passo na busca por uma formação de qualidade, explica Marcelo Saraceni, presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação: "Há escolas que têm 200 cursos de pós, mas não são especialistas em nenhum campo".

No caso dos cursos stricto sensu, é importante saber a nota na Capes, agência ligada ao MEC que regula a pós-graduação, afirma Alvaro Dias, neurocientista da Unifesp.

Fazer a investigação sobre o curso pela internet pode ser mais cômodo, mas ir até o local para conversar com coordenadores e entender melhor a proposta das aulas pode fazer toda a diferença.

A bibliografia das disciplinas é um dos aspectos que precisam ser bem analisados pelo aluno. Para Paulo Boggio, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, não podem faltar artigos científicos na literatura de um curso de neurociência. "O conteúdo deve dar margem para que os dilemas da área sejam discutidos de forma crítica, sem receita de bolo", afirma.

Nas especializações que juntam neurociência com marketing, psicologia e economia, por exemplo, devem estar previstos textos ligados à biologia, como neuroanatomia e neurofisiologia, acrescenta Boggio.
"Caso esses conteúdos sejam transmitidos de forma frágil, o curso não poderá ser considerado de neurociência, mas de generalidades", diz.

Dessa forma, ter profissionais da área médica no time de professores é essencial. "Mas é preciso ter uma fronteira clara entre o campo da saúde e da gestão de negócios", afirma Robson Gonçalves, da FGV, referindo-se ao curso de neurobusiness.

Ficar só na teoria nem sempre é suficiente. Escolher instituições que investem em aulas práticas e experiências em laboratório pode ser um diferencial. É o que afirma Guy Cliquet, do Insper.

"Uma escola que ofereça só aulas expositivas até consegue montar rápido um programa de pós, mas não permitirá que o aluno tenha um resultado tão bom no fim."

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CABEÇA FEITA
Como escolher uma pós-graduação na área.

TIRA-DÚVIDAS
Converse com um representante do curso para tirar dúvidas sobre seus conteúdos e objetivos e não restarem mal-entendidos.

REPUTAÇÃO
Procure uma instituição que seja referência na área. Às vezes, por mais que seja bem conceituada, a universidade não tem experiência no campo em questão.

NOTA
Olhe a avaliação do curso na Capes, vinculada ao Ministério da Educação, no caso dos stricto sensu. Eles devem ter um conceito igual ou maior do que três.

INOVAÇÃO
Opte por instituições com caráter de pioneirismo. Alguns cursos na área da neurociência são relativamente novos e exigem uma escola que consiga lidar com temas de ponta.

LEGISLAÇÃO
O programa deve, por lei, respeitar a carga horária mínima de 360 horas (lato sensu), sem contar o tempo dedicado ao trabalho de conclusão do programa.

BASE
O curso deve ter disciplinas ligadas às ciências biológicas, como neuroanatomia e neurofisiologia. É importante para ter uma base mínima de conhecimento sobre os assuntos.

PESQUISA
A bibliografia do curso deve conter artigos científicos para estimular a discussão de questões da neurociência, que ainda é uma área nebulosa.

PRÁTICA
Verifique se na instituição existe um laboratório para aulas práticas e dinâmicas entre os alunos. Se só forem realizadas aulas expositivas, o aluno não saberá como aplicar.

ENFOQUE
A maior parte das matérias deve ser ligada ao assunto principal do curso, não a temas correlatos. É preciso analisar com cuidado a ementa das aulas e a carga horária.

FORMAÇÃO
O programa deve ter ao menos um professor da área médica-científica, com experiência em laboratório de neurociência.

QUALIFICAÇÃO
Os cursos de pós-graduação lato sensu devem ter ao menos 50% de professores com título de mestre ou doutor (obtido em um programa stricto sensu).

TROCA-TROCA
Saiba como é feito o processo de seleção e qual o perfil da turma. Assim é possível ter uma ideia sobre o nível das aulas e se haverá uma boa troca entre os alunos.

INDICAÇÃO
Peça referências sobre o curso a colegas que já o fizeram. Saiba qual foi a impressão deles sobre as aulas e se atingiram o objetivo de formação que pretendiam.

CURTO PRAZO
Escolha um curso que tenha a ver com suas expectativas para os próximos cinco anos. Ele será importante para acelerar seu crescimento profissional.

PLANEJAMENTO
Não se inscreva em um programa por impulso ou porque está na moda. Ele exigirá um grande investimento de tempo e dinheiro.


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