Folha de S. Paulo


Medida provisória do ensino médio é inconstitucional, diz Procuradoria

A medida provisória do governo Michel Temer (PMDB) para a reforma do ensino médio foi considerada inconstitucional pela PGR (Procuradoria-Geral da República), de acordo com parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (19). A manifestação da PGR se deu na ação de inconstitucionalidade proposta pelo partido Psol, que será analisada pelo Supremo.

Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma medida provisória, "por seu próprio rito abreviado, não é instrumento adequado para reformas estruturais em políticas públicas, menos ainda em esfera crucial para o desenvolvimento do país, como é a educação".

Alan Marques - 22.jun.2016/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL 22.06.2016. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, participa da reunião do Supremo. Sessão do STF, onde os ministros do tribunal vão decidir se instauram nova ação penal contra o presidente afastado da Câmara. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante sessão do Supremo Tribunal Federal

"Demonstração concreta de faltar urgência para edição precipitada da norma está no fato de que, se aprovada pelo Congresso Nacional ainda em 2016, a reforma só será adotada nas escolas em 2018", afirma Janot.

A PGR também questiona o conteúdo da proposta do governo e afirma que a MP 746/2016 fere o direito à educação e o princípio da igualdade. Cita especificamente a não-obrigatoriedade do ensino de artes e educação física em parte desse período.

"A facultatividade prevista para o ensino da arte viola, frontalmente, o artigo 206, II, pois, para largas porções de alunos, impedirá o exercício da liberdade de aprender 'o pensamento, a arte e o saber'." A PGR ainda aponta como irregularidades a flexibilização na admissão de profissionais de educação, a supressão do ensino noturno e os itinerários formativos específicos.

A ação de inconstitucionalidade será levada ao plenário do Supremo pelo relator do caso, ministro Edson Fachin, o que só acontecerá a partir de fevereiro, após o recesso do Judiciário. O governo também deverá se manifestar sobre a questão.

Reformas no Ensino Médio

A MP foi aprovada pela Câmara dos Deputados na última terça-feira (13) com uma alteração que manteve o ensino de filosofia, sociologia, artes e educação física obrigatórios nessa etapa de ensino.

A reforma ainda precisa ser votada pelo Senado, que só retomará as sessões em plenário a partir de fevereiro, também após o recesso. A MP perde a validade se não for aprovada até o dia 3 de março.

Pesquisa Datafolha realizada na cidade de São Paulo no final do mês passado mostra que a possibilidade de escolher disciplinas e áreas no ensino médio agrada os estudantes, mas não tem a simpatia da maioria dos pais. Com a reforma, alunos poderão escolher parte da grade curricular em cinco áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico.

O Ministério da Educação tem defendido que o prazo de tramitação da MP é suficiente para as discussões sobre o tema.


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