Folha de S. Paulo


Para professores, primeiro dia de Enem teve conteúdo de Fuvest

O primeiro dia de provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), neste sábado (5), trouxe uma prova bem distribuída, interdisciplinar e com "nível Fuvest". A opinião é dos professores ouvidos pela Folha que elogiaram o teste.

Neste primeiro dia, o exame trouxe questões de ciências humanas de ciências da natureza.

Para o coordenador geral do Colégio Etapa, em São Paulo, Marcelo Dias, a prova foi "bem distribuída" –em relação ao alinhamento entre o conteúdo cobrado no teste e a matriz curricular do ensino médio.

Ele afirmou também que o exame foi sem surpresas. "Não teve pegadinhas. Isso melhora a prova".

O coordenador destacou que a prova exigiu um conhecimento maior do conteúdo por parte dos candidatos, em relação a outros anos. Especialmente em geografia e em química. "Vemos uma aproximação da Fuvest, da Unicamp", afirmou.

A coordenadora do ensino médio do Poliedro, em São Paulo, Daniela Mamede Aizenstein, afirmou que os alunos também sentiram essa proximidade com o vestibular. "Foi uma prova mais exigente que a edição anterior".

Paulo Moraes, diretor de ensino do Anglo Vestibulares, em São Paulo, é outro que relaciona a exigência à da Fuvest.

De acordo com Moraes, o tempo de apenas ler e responder a prova "é passado". "O aluno tem que saber a matéria. Cobrou-se conteúdo."

Apesar da qualidade da prova, pelos menos duas questões de história vão causar polêmica, segundo Gian Paolo Dorigo, superintendente de história do sistema Anglo.

"A questão número 9 da prova branca [que é ilustrada com uma imagem com o título "O café do Brasil em Paris"] permite duas interpretações, pela forma como o enunciado foi escrito. Tanto a alternativa A quanto a C podem ser consideradas corretas", segundo o professor.

O mesmo ocorre, diz Dorigo, na questão 22 da mesma prova branca, onde a pergunta está baseada em um trecho da obra "Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888". Segundo o professor do Anglo, tanto a alternativa A quanto a C estão certas.

REFORMA DO ENSINO MÉDIO

Preteridas pelo Governo Federal na reforma do ensino médio, as disciplinas de filosofia e de sociologia foram cobradas no Enem, cada uma com sete questões.

"Tivemos cobrança de forma muito bem delimitada, muito clara", diz Célio Tasinafo, diretor da Oficina do Estudante, em Campinas.

Enem 2016
Provas são aplicadas no sábado (5) e no domingo (6) para a maioria dos estudantes; parte teve exame adiado para dezembro
Fila para fazer a prova do Enem 2016 em São Paulo

Para Tasinafo, mesmo que as duas percam sua obrigatoriedade "nenhuma escola com juízo vai tirá-las considerando o que o aluno vai enfrentar depois".

Marcelo Dias, coordenador do Etapa, afirma que sociologia e filosofia não foram cobradas como eram "antigamente", quando "praticamente só interpretação resolvia".

Para Dias, a prova de filosofia, em especial, ficou mais difícil."Uma coisa que chamou atenção foi que relacionaram correntes [de pensamento] do passado com as atuais", afirmou.

Uma das questões, por exemplo, exigia que o candidato interpretasse um trecho da obra "Hamlet", escrita pelo inglês William Shakespeare no fim do século 16, com ideias filosóficas do século 20.

INTERPRETAÇÃO

De acordo com os professores, apesar do crescimento da importância do conhecimento das matérias, a interpretação continua fundamental no Enem.

Seguindo movimento iniciado nas provas de 2014 e, principalmente, 2015, as perguntas estão menores. Apesar disso, demandavam um tempo maior dos estudantes.

"Embora curtos, alguns deles são complexos", afirma a coordenadora pedagógica do Objetivo, em São Paulo, Vera Lúcia da Costa Antunes.

"Não é simplesmente fazer uma leitura, tem que realmente entender o que está perguntando", diz a coordenadora.

Para Célio Tasinafo, diretor da Oficina do Estudante, essa é uma prova para ser feita com "bastante cuidado".

Enem 2016


Endereço da página:

Links no texto: