Folha de S. Paulo


Manifestantes e MBL tentam desocupar escola no Paraná

Manifestantes e integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre) contrários às ocupações de escolas tentaram retirar estudantes do Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa, em Curitiba (PR), na noite desta quinta-feira (27). A ação durou cerca de duas horas.

Os estudantes são contra a reforma da educação anunciada no último dia 22 pelo governo federal. O novo modelo será focado em especialização, com a flexibilização de disciplinas e o incentivo à expansão do ensino em tempo integral.

Por volta das 21h, ao menos cem pessoas forçaram a entrada no colégio, no bairro Água Verde, de acordo com o advogado Paulo Lenzi, de um grupo de defensores das ocupações. Ele disse que parte do grupo arrombou um portão e o restante entrou no local com ajuda do diretor da escola.

Os manifestantes negam violência e dizem que estavam lá para apoiar os pais e alunos que querem a volta às aulas. O portão, segundo eles, foi aberto pelo diretor da escola.

"Nós não fomos fazer a desocupação. Nós fomos pressionar para que a escola fosse desocupada", disse Éder Borges, líder do MBL no Paraná que estava no local. "É a população que quer ser ouvida. Eles [estudantes] estão invadindo escolas, privando as pessoas do direito de ir e vir."

Estudantes que ocupam outras escolas na região foram ao local para tentar evitar a desocupação, e houve bate-boca. Um manifestante pró-ocupação foi detido pela PM por desobediência.

"Eles são muito agressivos verbalmente. Não vêm para a agressão física, mas provocam muito e derrubaram o portão", disse um aluno de 17 anos que estava na manifestação e não quis se identificar.

"Eles é que andam mascarados, ameaçam as pessoas, nos xingam de nazistas, fascistas, e o discurso de ódio é nosso?", afirma Borges.

No final da noite, a Polícia Militar forçou a retirada do grupo e do carro de som que estava em frente à escola. Para evitar nova tentativa de entrada no colégio, os policiais fizeram um cordão de isolamento dentro e fora do colégio. A ocupação permaneceu.

TENSÃO

Na última terça (25), a Folha acompanhou um protesto contrário às ocupações. Cerca de 40 pais e alunos seguravam faixas, apitavam e gritavam "O colégio é nosso" em frente ao Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa. Motoristas buzinavam em apoio.

"A ocupação não deveria acontecer nessa hora. Não foi uma decisão democrática", diz a aluna Fernanda Stall, 16, no terceiro ano do ensino médio. "Eu também sou contra a reforma, mas a gente quer aula", afirma a jovem.

"Eu tenho medo do abandono a que os estudantes estão relegados", comenta o empresário Jesiel Santos, pai de dois alunos de 11 anos.

Eles se queixam de que a decisão da ocupação foi tomada às pressas, e só quem é favorável a ela pode entrar na escola. "Eles até se dispõem ao diálogo, mas dizem que a decisão agora é do grupo", diz o diretor Jailson da Silva Neco.

Do lado de dentro, cerca de 20 estudantes ocupavam o colégio. Reclamavam de xingamentos, ameaças e agressões. Fios elétricos foram cortados na tentativa de apagar a luz.

Em alguns minutos, ouviu-se um barulho no portão: com chutes, um aluno tentava forçar a entrada. "Prepara a barricada", disse uma estudante. Um deles reforçou o portão com um pedaço de pau. Outra colocou um engradado como apoio.

No lado de fora, parte dos manifestantes começou a espalmar o portão, fazendo barulho. Uma mãe gritou: "Estão com medo, vagabundos?". Os outros pediam: "Desocupa! Queremos aula!".

Dois policiais militares olhavam de longe. À Folha disseram que eram orientados a só interferir em caso de depredação do patrimônio público. O tumulto parou em alguns minutos, por intervenção de parte dos manifestantes.

A Secretaria da Segurança informou que tem desestimulado o confronto e que o governo está, desde o início, aberto ao diálogo. "Não podemos fazer valer nossas convicções com o uso da força", disse o secretário Wagner Mesquita, para quem a reintegração de posse dos colégios é "a última alternativa".

Para o movimento Ocupa Paraná, há uma tentativa de criminalizar as ocupações, inclusive a partir da morte do estudante Lucas Mota, na segunda (24). "A resolução deste conflito não está na violência e na truculência, e sim no diálogo", disse o grupo, em nota.

Os estudantes dizem que só saem dos colégios se o governo federal retirar a medida provisória que trata da reforma do ensino médio.


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