Folha de S. Paulo


Protesto em escola ocupada do Paraná tem tensão, apitaço e xingamentos

A morte de um aluno nesta semana em uma escola ocupada por estudantes no Paraná acirrou os ânimos contra e a favor o movimento, que já dura três semanas e ocupa cerca de um terço dos 2.000 colégios estaduais.

Na segunda-feira (24), um estudante de 16 anos foi morto a facadas por um colega de 17 anos dentro de uma dessas escolas ocupadas.

De um lado, pais, alunos e professores que querem a volta às aulas passaram a organizar protestos contrários. Em algumas cidades, chegaram a "ocupar" antes os colégios para evitar a tomada do local pelos manifestantes. Para eles, o movimento, que é contra a reforma do ensino médio, não é democrático.

Assista

Do outro lado, quem está na ocupação reclama de violência. Na última segunda, pais arrombaram o portão de uma escola em Curitiba para forçar a desocupação. Há relatos de xingamentos, empurrões e ataques com latinhas e pedaços de pau. Estudantes reforçaram a segurança com cadeados e barricadas.

"Virou um campo de guerra", diz a advogada Tânia Mandarino, de um grupo de defensores das ocupações. Ela defende o direito à manifestação dos alunos. Já a Procuradoria-Geral do Estado, que está pedindo a reintegração de posse das escolas, diz que as ocupações são "ilegais e abusivas" porque ferem o direito à educação.

"São dois direitos constitucionais em conflito. É preciso buscar uma conciliação na Justiça", afirma a advogada.

TENSÃO

Nesta terça (25), a Folha acompanhou um protesto contrário às ocupações. Cerca de 40 pais e alunos seguravam faixas, apitavam e gritavam "O colégio é nosso" em frente ao Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa, na capital paranaense. Motoristas buzinavam em apoio.

"A ocupação não deveria acontecer nessa hora. Não foi uma decisão democrática", diz a aluna Fernanda Stall, 16, no terceiro ano do ensino médio. "Eu também sou contra a reforma, mas a gente quer aula", afirma a jovem.

"Eu tenho medo do abandono a que os estudantes estão relegados", comenta o empresário Jesiel Santos, pai de dois alunos de 11 anos.

Eles se queixam de que a decisão da ocupação foi tomada às pressas, e só quem é favorável a ela pode entrar na escola. "Eles até se dispõem ao diálogo, mas dizem que a decisão agora é do grupo", diz o diretor Jailson da Silva Neco.

Do lado de dentro, cerca de 20 estudantes ocupavam o colégio. Reclamavam de xingamentos, ameaças e agressões. Fios elétricos foram cortados na tentativa de apagar a luz.

Em alguns minutos, ouviu-se um barulho no portão: com chutes, um aluno tentava forçar a entrada. "Prepara a barricada", disse uma estudante. Um deles reforçou o portão com um pedaço de pau. Outra colocou um engradado como apoio.

No lado de fora, parte dos manifestantes começou a espalmar o portão, fazendo barulho. Uma mãe gritou: "Estão com medo, vagabundos?". Os outros pediam: "Desocupa! Queremos aula!".

Dois policiais militares olhavam de longe. À Folha disseram que eram orientados a só interferir em caso de depredação do patrimônio público. O tumulto parou em alguns minutos, por intervenção de parte dos manifestantes.

A Secretaria da Segurança informou que tem desestimulado o confronto e que o governo está, desde o início, aberto ao diálogo. "Não podemos fazer valer nossas convicções com o uso da força", disse o secretário Wagner Mesquita, para quem a reintegração de posse dos colégios é "a última alternativa".

Para o movimento Ocupa Paraná, há uma tentativa de criminalizar as ocupações, inclusive a partir da morte do estudante Lucas Mota, nesta segunda (24). "A resolução deste conflito não está na violência e na truculência, e sim no diálogo", disse o grupo, em nota.

Os estudantes dizem que só saem dos colégios se o governo federal retirar a medida provisória que trata da reforma do ensino médio. Eles farão uma assembleia nesta quarta (26) pela manhã. O local ainda não foi divulgado -segundo a organização, para evitar confrontos.


Endereço da página:

Links no texto: