Folha de S. Paulo


Governo quer 'puxar' conteúdo do ensino médio para o fundamental

Parte do conteúdo previsto para o ensino médio nas discussões sobre a nova Base Nacional Comum Curricular será "adiantado" para os anos finais do ensino fundamental. A iniciativa, diz a secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, 69, facilitará a reformulação do ensino médio.

A reforma foi anunciada pelo governo Michel Temer (PMDB) na última semana.

Danilo Verpa/Folhapress
A educadora Maria Helena Guimarães de Castro, que integra a equipe do MEC
A educadora Maria Helena Guimarães de Castro, que integra a equipe do MEC

A ideia central é fazer com que metade das aulas sejam iguais para todos os estudantes, a partir dos conteúdos descritos pela base curricular, que vai definir o que os alunos devem aprender em toda educação básica.

O restante poderá ser escolhido pelos estudantes entre as áreas de linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino profissional. Também como aposta para melhorar indicadores como evasão e aprendizado na etapa, o governo quer colocar 500 mil alunos em escolas de tempo integral.

Em entrevista à Folha, Maria Helena diz que todo o processo de flexibilização deve demorar ao menos cinco anos para ser consolidado nas redes pública e privada do país.

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Flexibilização

Dificilmente essa proposta vai aumentar a desigualdade, acredito que vai reduzir. Hoje há a tendência de reprovação e péssimo aproveitamento de aprendizagem. E as principais causas estão na falta de interesse pelo currículo. Quando tivermos uma escola mais interessante, projetos de vida que façam mais sentido, integração das áreas, vai diminuir esse problema. É impossível defender o atual ensino médio que há anos está em crise.

Responsabilidades

Os Estados terão um papel importante, mas gradativamente as redes vão se aperfeiçoar. Precisamos acompanhar e fazer formações de professores. Estamos iniciando uma reforma estrutural. Para fazer direito, com boa formação, materiais, levará no mínimo cinco anos. Até porque a base curricular [da etapa] só estará aprovada no ano que vem.

Recursos

Não obrigatoriamente precisaremos de mais recursos. Os Estados podem começar a implementar por uma das áreas de aprofundamento, enquanto se preparam para as outras. O ensino técnico custa mais caro, mas devemos fazer parcerias. O próprio MEC está reorganizando o Pronatec.

Aprofundamentos

Não será tão complicado a oferta dos blocos de aprofundamento. O maior problema é a estrutura de organização das carreiras, não a falta de professor. Terá que ter adaptação nas carreiras de ensino médio para maior flexibilidade do corpo docente. Os professores de matemática, por exemplo, poderão ter trabalho de complementação pedagógica para atuar na área de física, por exemplo. As redes têm condição de se adequar.

Adiantamento

Vários componentes de conteúdo que, na segunda versão da base curricular, estavam previstos no ensino médio, estão sendo puxados para o ensino fundamental, principalmente para o 8º e 9º anos. Seja na área de ciências, linguagens ou matemática. Ainda estamos em fase de revisão e só em outubro teremos detalhes sobre quais conteúdos. Mas isso vai reforçar o aprofundamento no ensino médio.

Conteúdo

Não discutimos ainda se haverá uma base do MEC para as áreas de aprofundamento, pode ser que seja uma demanda dos Estados. O Consed [conselho que reúne secretários estaduais de Educação] fará seminários sobre o ensino médio e a base curricular. Se houver essa decisão, faremos.

Artes e educação física

Educação física e artes permanecem e estão mantidas como diretrizes curriculares até a elaboração da Base Nacional. Esses componentes devem entrar na base, mas não sei ainda que peso terão [o documento não está pronto]. A base não define carga horária, isso serão os Estados. A minha percepção é que arte pode ser integrada também a áreas de aprofundamento, como linguagens, humanidades e até nas ciências exatas.

Ensino integral

A ideia é começar com número pequeno de escolas, que será supervisionado e avaliado para fazer correções ao longo do tempo. Vamos abrir um edital para as redes aderirem a partir dos critérios [escolas mais vulneráveis devem ter prioridade]. Haverá diretrizes a seguir, mas elas vão permitir modelos diferentes de ensino integral.

REFORMAS NO ENSINO MÉDIO - Principais mudanças propostas pela medida provisória do governo Temer


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