Folha de S. Paulo


Países líderes em avaliações instam diretor a se concentrar na pedagogia

Uma gestão em nome do aluno e focada na pedagogia é o modelo adotado nos países que têm obtido melhores resultados em educação tanto em rankings internacionais de desempenho quanto na revalorização da escola por comunidades locais.

Esta visão equipara sistemas educacionais de países muito diferentes entre si do ponto de vista cultural e da organização política e social.

"Nada mais diferente do que os governos do Canadá e da China, por exemplo, mas os modelos de gestão escolar são parecidos. Nos dois países, o diretor é o gestor da pedagogia, a burocracia só está a serviço disto", afirma Gisela Wajskop, diretora da Escola do Bairro e pós-doutoranda no Formep, programa de formação de professores da PUC-SP.

"Em Xangai, o diretor conhece cada um dos alunos, lê os planos de aula e entra na sala para ver os professores lecionando", conta Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial, professora visitante na Universidade Harvard (EUA) e colunista da Folha.

FORMAÇÃO

O investimento na formação dos diretores é outra característica de modelos internacionais de gestão escolar considerados exemplares.

Wajskop, que também é pesquisadora associada do Oise (Ontario Institute for Studies in Education), conta que na província canadense de Ontário os educadores passam por escolas de formação geral e por uma especialização. Para trabalhar na gestão, precisam cumprir mais uma formação, equivalente à pós-graduação.

É o modelo usado na Finlândia. "Quando a Finlândia fez sua reforma educacional, na década de 1980, profissionais de Ontário foram ao país europeu dar consultoria e ser parceiros no projeto. Agora, são os finlandeses que estão dando consultoria aos canadenses", conta Wajskop.

Trabalhar em parcerias é uma característica de gestão também explorada por países como Inglaterra e Romênia, entre outros.

"Em Londres, colocam em pares diretores de escola de desempenhos fraco e forte com características socioeconômicas similares. As duas equipes de gestão trabalham juntas para elaborar planos educativos melhores", exemplifica Costin.

O trabalho colaborativo entre toda a equipe escolar e a comunidade é outro aspecto muito valorizado hoje.

"O gestor é quem faz o meio de campo, atrai a comunidade e mobiliza os professores", afirma Fernando Abrucio, especialista em políticas educacionais e gestão pública, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

PROFISSIONALISMO

A profissionalização da gestão escolar, iniciada na década de 1980, ganha no século 21 novas nuances, principalmente em países em que a capacitação dos diretores já garante essa abordagem profissional, segundo Abrucio.

"O profissionalismo tem um grau de fordismo [sistema de gestão elaborado por Henry Ford no século 20], mas não pode parar nisso. Às vezes o debate trata a gestão escolar como a de uma empresa, mas o diretor não é um CEO, e a escola não é um banco de investimento", diz ele.

A visão atual é a do gestor que chega a essa função por saber desenvolver características de liderança e ter apoio de seus pares (coordenadores, professores), dos alunos e de seus pais.

"O que vi no Canadá foram diretores cooperativos, que trabalham com a equipe como parceiros, não em uma relação de subordinação", afirma Wajskop.


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