Folha de S. Paulo


Análise

Vai esquentar a disputa pelo mercado da educação virtual

Jota Azevedo
Escultura feita com periféricos de impressora e computador, botões de teclado e teclas de piano
Escultura feita com periféricos de impressora e computador, botões de teclado e teclas de piano

As novas gerações de alunos lidam muito bem com o ambiente virtual e não têm paciência para ficar horas em uma sala de aula ou se deslocar todos dias até um campus. Em um mundo cada vez mais digital, o mercado exige novas habilidades.

Esse é o raciocínio de altos executivos da área de ensino para justificar o crescente interesse pela educação a distância, modelo que saiu de uma fatia de 1% do mercado em 2004 para 20% em 2014.

O interesse por um programa de estudo que pode ser feito por computador ou celular e exige poucas visitas à escola não parte só da nova geração de alunos. É, principalmente, um modelo oportuno na visão de grandes instituições de ensino, que buscam expandir sua base de alunos, ganhar escala, padronizar cursos e diluir custos, melhorando seus resultados.

Isso porque, no Brasil de hoje, o setor tem dois fatos a lamentar: o alto desemprego —que atinge mais os jovens (ou seja, os clientes)— e as restrições impostas pelo governo ao financiamento estudantil no final de 2014.
É nesse contexto de demanda deprimida e escassez de crédito que se encaixa a educação a distância. Com mensalidades inferiores às da graduação presencial, ela aumenta seu poder de atrair alunos de renda mais baixa.

Estudos apontam o perfil de quem procura a modalidade: o estudante que não tem ajuda dos pais para pagar a faculdade, já passou dos 22 anos, trabalha para se manter e vê no diploma uma chance de ascensão social.

No quesito qualidade, embora seja questionada por educadores, a graduação a distância está sujeita às mesmas exigências do Ministério da Educação que escrutinam a educação convencional. A maior parte se enquadra na referência mínima exigida. Seu maior desafio ainda é evitar que os alunos abandonem os estudos antes do fim.

Quem sai em vantagem na corrida pelo ensino remoto são os grandes conglomerados. A Kroton, maior instituição de ensino superior privado do país, está prestes a se unir à Estácio, segunda do ranking, e já é dona da Unopar e da Uniderp, as quais, juntas, correspondem a 40% do total de matrículas de educação a distância. Restará aos vice-líderes unirem-se a instituições menores para ganhar condição de competir com esse gigante.


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