Folha de S. Paulo


Briga de alunos com professor da Unicamp acaba na delegacia

Briga entre professor e alunos da Unicamp termina na delegacia

Uma briga entre um professor do Instituto de Física e alunos grevistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em Campinas (a 90 km de São Paulo), terminou com os envolvidos na delegacia e dois boletins de ocorrência registrados.

Um vídeo gravado durante a confusão, na última segunda (11), teve repercussão nas redes sociais e em grupos de debate da Unicamp no Facebook.

A greve na instituição, iniciada em maio, prossegue –no último dia 7, alunos desocuparam a reitoria. No vídeo, o professor Ernesto Kemp é impedido pelos estudantes de entrar na sala de aula para aplicar uma prova. Eles trocam acusações e empurrões durante a confusão.

Os alunos que aparecem no vídeo bloqueando a porta, Aleph Silva e Tatiane Lopes, afirmaram à Folha que Kemp aplicaria um exame sobre um conteúdo que não foi dado durante o semestre, em razão das greves estudantis na universidade.

A gritaria e a discussão foram filmadas até o momento em que o professor se aproxima da câmera da estudante Anna Emília. "A gente esperou para falar com ele. Não conseguimos. Avisamos que o exame não poderia acontecer. Ele começou a agredir [os estudantes] antes de o vídeo começar", disse Aleph Silva, 21, estudante de Artes Cênicas.

Após o professor desistir de aplicar o exame, ele registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal e perturbação do trabalho. Já os estudantes fizeram uma queixa por agressão, injúria racial e ameaça. Ernesto Kemp ainda não foi localizado pela reportagem para comentar o caso.

Em nota, a assessoria de imprensa da Unicamp informou que "tomou conhecimento do vídeo sobre o referido episódio pelas redes sociais. A universidade aguarda a formalização de eventual denúncia para tomar as medidas necessárias".

O sindicato dos professores da Unicamp foi procurado pela reportagem, mas ainda não havia se posicionado sobre o caso até o fim da manhã desta quarta-feira (13).

O coordenador do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Unicamp, Guilherme Montenegro, disse que o órgão repudia a atitude do professor e pedirá abertura de sindicância. "O professor tentou aplicar o exame sem ter dado o conteúdo nas aulas, em razão das greves. Ele agiu de forma violenta contra os alunos", disse.

LOUSA APAGADA

Montenegro se envolveu em outro conflito entre professor e estudante na Unicamp neste ano. No dia 20 de junho, ele apagou o quadro do professor do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica, Serguei Popov.

À época, o docente acusou os alunos de invadirem a aula. O aluno afirma que a atitude que teve não foi certa, mas é reflexo de um desespero que os cotistas vivem dentro da universidade.

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O coordenador do DCE, Guilherme Montenegro, tentando apagar a lousa do professor Popov, no dia 20 de junho.
O coordenador do DCE, Guilherme Montenegro, tentando apagar a lousa do professor Popov, em junho

GREVES

Após 59 dias de ocupação da reitoria da Unicamp, os alunos deixaram o prédio no dia último dia 7 de junho. Eles afirmam que o ato era para reivindicar mais moradias, cotas raciais e contra o corte de R$ 40 milhões anunciados na universidade.

A saída aconteceu após receberem um documento do reitor, José Tadeu Jorge, em que ele se compromete a avaliar os possíveis excessos cometidos pelos estudantes, professores e servidores durante a paralisação.

Durante todo o mês de junho, os professores estiveram em greve reivindicando aumento salarial de 12%. O movimento foi suspenso após acordo que definiu reajuste de 3%. Já os trabalhadores técnicos e administrativos da instituição estão paralisados há 52 dias.

A reitoria informou que acontecerá uma reunião na tarde desta quarta com esses funcionários para tentar uma negociação.


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