Folha de S. Paulo


Interpretação de texto ganha mais importância no vestibular; veja dicas

Ler muito é o que mais vale na preparação para redação e português.

"É ilusão achar que sem conhecer o assunto será possível fazer um texto decente, construir sua própria opinião e uma argumentação coerente", afirma Pasquale Cipro Neto, que é professor de português e colunista da Folha.

Esse conhecimento vem do que ele chama de uma "leitura mais civilizada", em contraposição às redes sociais. Entram aí artigos, reportagens, sites de instituições de ensino, enfim, textos considerados profundos e analíticos.

O contato com linguagens mais complexas cria repertório linguístico e conceitual para a produção de um bom texto. Isso não deve limitar-se à linguagem escrita. Ouvir música ou assistir a filmes bons ajuda, diz Pasquale.

"O estudante deve mostrar capacidade de ler e compreender textos dos mais variados gêneros e tem de saber decodificar imagens. É por isso que as provas de português apresentam questões em que se articulam os vários tipos de linguagem (verbal e não verbal)", diz Thais Nicoleti de Camargo, consultora de língua portuguesa da Folha e do UOL.

QUEM, O QUE, COMO

Há um truque para ajudar o estudante a interpretar o que lê, explica Nicoleti: "Ele pode praticar constantemente o exercício de leitura do mundo tentando responder a algumas questões que se podem propor acerca de qualquer texto. Essas questões resumem-se em saber quem produz a mensagem, a que público ela se dirige, o que se diz, como e com que objetivo".

Isso, diz ela, será importante também no momento de produzir uma redação, normalmente proposta com base na leitura de textos. "Na hora de escrever, o candidato deverá expressar-se com autonomia, mas baseado naquilo que tiver sido pedido no enunciado."

Nos exames do meio do ano, as provas têm pouca gramática, lembra Elisabeth Massaranduba, professora do Objetivo. Mas isso não dispensa o aluno de treinar o padrão formal da língua culta. Só assim evitará tropeços de concordância verbal ou regência nominal.

Dificuldades específicas, como crase ou uso de conjunções, pedem estudo mais direcionado. O aluno vai precisar de uma gramática e pode fazer listas de exercícios.

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NADA DE 'ENFEITAR' O TEXTO
Conselhos dos professores na preparação para as provas de português e redação

MULTIMEIOS
Para Henrique Braga, professor de português do Anglo Vestibulares, "o importante é variar o repertório de textos, que podem ser lidos nos meios eletrônicos, de mais fácil acesso ao estudante"

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PONTO, VÍRGULA
A pontuação é uma das grandes dificuldades nas provas. É preciso ler os enunciados prestando atenção a cada vírgula e usar o ponto final para separar ideias diferentes em um mesmo período

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PRETO NO BRANCO
Raphael Jacovenze, professor de português do Poliedro, considera a leitura de livros mais eficaz. "Por ser um processo mais lento, fica mais fácil memorizar o que foi lido"

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'A GENTE SABEMOS'
Concordância verbal é problema recorrente nas provas escritas. Para estudar o tema, uma opção é ler textos procurando identificar o sujeito de cada oração e como o verbo concorda com ele

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SEM FIRULAS
A tentação de escrever "bonito" e usar palavras e estruturas complicadas é uma armadilha. Escrever de maneira indireta e inverter a ordem dos termos aumenta o risco de erros gramaticais

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COM OPINIÃO
Editoriais e artigos de jornais mostram modelos de argumentação que ajudam bastante na redação dissertativa, lembra Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo

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DESAPEGO
O candidato deve ler enunciados e questões sem tomar partido. Deve entender o que está escrito, a argumentação e a conclusão, e não direcionar o raciocínio do autor de acordo com a própria opinião

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LEITURA OBJETIVA
Enunciados extensos podem fazer o vestibulando se perder e esquecer o que está sendo pedido na questão. A dica é ler a pergunta primeiro e depois o texto em que ela se baseia

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ASSIM SIM, ASSIM NÃO
Dois exemplos de redação de vestibulando, um positivo, outro negativo, comentados pelo professor Pasquale Cipro Neto

O CERTO

"O ministro de finanças japonês Taro Aso chocou grande parte do mundo ao dizer que os idosos deveriam "se apressar a morrer". [...] em um contexto marcado pela produtividade, as falas de Aso não são isoladas. [...] Difícil, portanto, é desatrelar-se da produtividade. Engolidos por ela, tornamo-nos peças substituíveis de uma engrenagem"

Comentário do Pasquale: É um texto objetivo, coeso, não tem rebarbas. Há alguns "cochilos" gramaticais, mas a pontuação é boa e a sintaxe é clara. É interessante como o autor expande a fala do ministro japonês para concluir sobre um processo real e implacável de produção-consumo-descarte.

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O ERRADO

"Após a queda do muro de Berlim, o capitalismo se tornou o modelo hegemônico ao redor do mundo. No entanto, esse triunfo decorreu de diversas mudanças nesse sistema e até a incorporação de outros, os quais podem executar transformações dentro dele. [...] esse sistema sofre diversas mudanças. As quais podem prolongar a existência dele"

Comentário do Pasquale: O texto começa com uma afirmação inverídica e segue com argumentos vagos. Há partes incompreensíveis ("triunfo decorreu de diversas mudanças[...] até mesmo a incorporação de outros". Que outros?). Não há coerência entre os argumentos apresentados e a conclusão.


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