Folha de S. Paulo


Alunos da Unicamp protestam contra corte de verbas e ocupam reitoria

Com cartazes que pedem cotas e mais moradias, um grupo de estudantes ocupa desde a noite desta terça-feira (10) a reitoria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no interior de São Paulo.

Os alunos são contra o anúncio do corte de verbas e do desmonte da Unicamp, e pedem a ampliação de moradias, de restaurantes e de cotas. Em uma página na rede social, os estudantes afirmam que decidiram "construir a greve geral" e ocupar a reitoria sob o mote "Cotas sim, cortes não! Contra o golpe e pela educação, permanência e ampliação".

A reitoria informou que foi "surpreendida por volta das 23h de terça-feira (10) com a ocupação de suas instalações, que incluem as pró-reitorias, no campus de Campinas". A Unicamp disse ainda que desconhece a motivação do ato e estranha que a ocupação tenha ocorrido sem qualquer reivindicação prévia por parte dos manifestantes.

Ocupa Tudo Unicamp 2016/Divulgação
Estudantes da Unicamp ocupam prédio da reitoria
Estudantes da Unicamp ocupam prédio da reitoria

A ocupação aconteceu após a realização de uma assembleia dos estudantes, com apoio dos funcionários, que debateu o desmonte da Unicamp. A greve dos estudantes e a ocupação da reitoria são por tempo indeterminado e devem permanecer até a negociação das reivindicações dos estudantes e dos funcionários e professores, que querem reajuste salarial. A Unicamp ressaltou que "avalia o quadro a fim de tomar medidas cabíveis". A universidade diz que as atividades de ensino, pesquisa e extensão funcionam normalmente.

Em uma rede social, os estudantes afirmam a internet do prédio foi cortada pela reitoria. "Deixamos o recado de que estamos articulados e organizados para garantir a nossa comunicação. Seguimos com todo o gás a nossa ocupação!".

Os estudantes afirmam que a reitoria anunciou no dia 28 de abril um "plano de 'contingenciamento' que na prática significará o corte de cerca de R$ 40 milhões do orçamento da Unicamp". "Esse corte congelará os concursos, a contratação de professores e funcionários e afetará a carreira docente. A continuidade das obras, a manutenção de prédios e o atendimento à infraestrutura da universidade serão paralisados", diz a nota publicada na rede social (leia íntegra abaixo).

Os funcionários da Unicamp já aprovaram um indicativo de greve e paralisação para próxima segunda (16). Os funcionários da USP (Universidade de São Paulo) também entram em greve por tempo indeterminado a partir desta quinta-feira (12). As principais reivindicações são o desmonte da instituição, o arrocho salarial e a defesa do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores).

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Nós, estudantes da UNICAMP reunidos nesse dia 10 de maio em assembleia geral com cerca de 1000 pessoas, decidimos construir a greve geral e ocupamos a reitoria da universidade sob o mote "COTAS SIM, CORTES NÃO! CONTRA O GOLPE E PELA EDUCAÇÃO, PERMANÊNCIA E AMPLIAÇÃO".

O reitor, Tadeu, anunciou no dia 28 de abril um plano de "contingenciamento" que na prática significará o corte de cerca de R$ 40 milhões do orçamento da UNICAMP. Esse corte congelará os concursos, a contratação de professores e funcionários e afetará a carreira docente. A continuidade das obras, a manutenção de prédios e o atendimento à infraestrutura da universidade serão paralisados. Muitos institutos, faculdades e também os colégios técnicos ligados à UNICAMP, o COTUCA e COTIL, serão afetados, com destaque para a área da saúde que terá cortes de gastos nos plantões e a reposição de médicos e enfermeiros será reduzida. Serviços como transporte fretado e cópias de impressão serão parcialmente cortados e já acontecem novas demissões de trabalhadores terceirizados, que já têm um trabalho ultra-explorado e salários injustos. Se depender do plano da reitoria a moradia estudantil, que foi conquistada pela luta dos estudantes, mas há vinte anos não atende a demanda, terá seus problemas aumentados (hiperlotação, falta de camas, curtos na rede elétrica, infiltrações etc.) e a ampliação não acontecerá, ao contrário das falsas promessas do Tadeu. As bolsas que garantem a permanência dos estudantes serão reduzidas, inclusive aquelas que (absurdamente) exigem a contrapartida do trabalho. O corte fortalece também o racismo estrutural da universidade, mantém a restrição do acesso da juventude negra à UNICAMP, que continua sendo a "diferentona", por não possuir uma política de cotas étnico-raciais. Não aceitaremos nenhum desses ataques, por isso ocupamos a reitoria e queremos que todas as nossas reivindicações sejam atendidas!

Entendemos que este corte é uma medida preparatória para um projeto maior de precarização, privatização e desmonte da universidade pública, imposto pelo governo do estado, conciliado com as reitorias e a mais alta burocracia das estaduais paulistas. Mas não deixaremos que precarizem as nossas condições de estudo, pesquisa e nem as de trabalho! Por isso queremos nos unificar com os estudantes da USP, da UNESP e os secundaristas das escolas estaduais e ETECs de São Paulo, bem como a todos os trabalhadores, contra os ataques das reitorias e do governo Alckmin, que rouba merenda e manda sua polícia bater em estudantes que lutam, enquanto destrói a educação de todo o estado.

Se Tadeu e Alckmin vêm quentes com seus ataques, nós gritamos que a nossa luta só começou e já estamos fervendo!!


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