Folha de S. Paulo


Vice de Alckmin diz que demanda de jovens é legítima, mas critica ocupação

Zanone Fraissat/Folhapress
O vice-governador de São Paulo, Márcio França.
O vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), em entrevista para a Folha

O Estado precisa aprender com as ocupações de escolas e abrir um diálogo mais efetivo com os estudantes, diz o vice-governador Márcio França (PSB), secretário da pasta que coordena os colégios técnicos no governo Geraldo Alckmin (PSDB).

"Temos de aprender os ensinamentos do movimento. Um deles é usar a tecnologia para se comunicar melhor", disse ele à Folha, mesmo ressaltando não concordar com as ocupações. Potencial candidato à sucessão de Alckmin em 2018, França é secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo, pasta à qual é vinculado o Centro Paula Souza, que gerencia as Etecs (escolas técnicas).

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Folha - Como o governo avaliou o movimento de ocupações nas Etecs?

Márcio França - Temos que separar os movimentos. Um é da reivindicação de alunos, sempre legítima. É para eles que a gente faz o sistema. Mas há também um movimento político-partidário. A reivindicação é correta, o formato é que foi equivocado. Os alunos acabam sendo vítimas de pessoas que querem discutir outra coisa, que é o impeachment. Seria muita coincidência que durante cinco anos esse assunto não tenha aparecido [e agora] acontece bem no período do impeachment. É a conjunção de fatos. Isso é do jogo da política, mas no meio há alunos que querem estudar.

Só após as ocupações o governo ofereceu merenda seca (bebida láctea e bolacha, por exemplo) onde não tinha nada e propôs marmitex. A gestão agiria sem essa pressão?

O Paula Souza é uma autarquia enorme, tem demanda todo dia. Você reage de acordo com a emergência. A mobilização, portanto, é válida. Agora o pressuposto é fazer reivindicação de maneira correta. Faz parte criar mecanismo para chamar atenção, só não pode prejudicar os outros. A gente acha que o protesto deve ser feito com a porta aberta. Quando impede funcionários de trabalhar, ultrapassa seu direito.

A demanda é justa?

Isso surgiu praticamente neste ano, mas é compreensível. Não há tradição de comida nas Etecs. Para isso, o poder público vai fazer adaptações, mas não consegue ter a agilidade do privado. Dos 213 mil alunos das Etecs, estamos discutindo 20 mil [alunos de ensino integral que não recebem refeições e para os quais o governo promete marmitex a partir de agosto].

Mas a Constituição foi alterada em 2009 para que toda a educação básica tivesse merenda. Outra lei determina que ela deve ser saudável. Por que a legislação não foi atendida até agora?

Toda legislação é feita em busca de um ideal. São Paulo é o maior Estado que faz ensino técnico público. No nosso entendimento, o lanche era suficiente. Mas, fruto da situação atual, houve o entendimento de que era importante ter comida no meio do dia também. Vamos adaptar as escolas, com cozinhas, mas não se faz para amanhã.

Esse é o máximo que o governo pode oferecer?

Em 15 dias, a gente encontrou uma solução. Tentamos fazer compra emergencial, mas a área técnica concluiu que não dava. Então vamos licitar as refeições para aqueles que quiserem. E, se por hipótese, dos 20 mil, só 2.000 disserem que querem? Vamos comprar só para eles, porque o dinheiro é público. Se todos quiserem, vão custar R$ 14 milhões no semestre.

E as escolas que recebem merenda seca (75 unidades)?

Nós queremos padrão de excelência. Mas só os alunos do integral neste momento [vão ter refeições garantidas]. Os outros ficam quatro horas na escola, não têm necessidade de parar para almoçar.

No ano passado houve ocupações na rede estadual e agora nas Etecs. O governo tem interlocução com os alunos?

Existem os canais, mas eles não devem estar funcionando como deveriam. Hoje, a comunicação pelo celular, redes sociais, trouxe os meninos mais jovens. É uma outra configuração. Nós temos de aprender os ensinamentos do movimento. A gente vê meninos pulando o muro pra ficar dentro da escolas, é o sonho do gestor que ele fique dentro da escola.

Como o governo aproveitaria esse movimento? Alunos reclamam que o governo só interage com processos de reintegração e com a polícia.

Aproveita aprendendo. Uma das formas é usar a tecnologia para se comunicar com os alunos. Mas o formato do movimento traz dificuldades e nem todos querem se comunicar. Vejo que é um movimento horizontal, mas eu falo com quem? Já pensei em ir lá falar com eles, mas acho que não vão deixar entrar.

Recentemente, o secretário de Educação, José Renato Nalini, publicou artigo em que criticava o fato de o Estado ter de arcar com muitas coisas. O senhor concorda que se exige muito do Estado?

Eu não acho. A gente tem de garantir para todos igualdade de oportunidade, com ensino público de qualidade para todo mundo poder competir. Mas a lógica é a seguinte: tem de ser feito o máximo, dentro do mínimo de gasto. Porque mexemos com dinheiro que não é nosso.


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