Folha de S. Paulo


Faculdades particulares terão 500 mil calouros a menos em dois anos

Moacyr Lopes Junior - 10.jan.16/Folhapress
Candidatos fazem prova da segunda fase da Fuvest
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Faculdades particulares devem amargar dois anos de queda no número de novos alunos –uma baixa de 20% no período, quase 500 mil calouros a menos– por causa da crise e da redução dos incentivos do governo.

O Brasil teve 2 milhões de novas matrículas no ano passado, redução de 12% frente a 2014, segundo cálculos da consultoria Hoper Educação. Isso significa 284 mil calouros a menos no ensino superior.

Com base em inscrições realizadas por 30 instituições de ensino superior até fevereiro passado, a consultoria prevê queda de 10% no número de novos alunos neste ano, o que representaria menos 207 mil calouros nas faculdades.

Novos alunos na rede particular - Em milhões

O número considera tanto o ensino presencial quanto o a distância, somados. Só no Estado de São Paulo, serão 170 mil alunos a menos em 2015 e 2016, segundo estimativa do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior.

Para Romário Davel, consultor na Hoper, o desempenho de 2015 foi afetado sobretudo pela redução do número de vagas por meio do Fies, o sistema de financiamento estudantil do governo federal.

"O Fies não será, porém, o principal motivo da queda. Agora, a redução da renda e piora do emprego estão afastando estudantes do ensino privado por falta de capacidade de pagamento", disse.

Foi o que aconteceu com Lohrane Aguiar, 20, que adiou temporariamente o sonho de cursar Direito no Rio. A mensalidade da faculdade varia de R$ 900 a R$ 1.000. Ela procura atualmente um trabalho com melhor salário para pagar o curso.

"Sou jovem aprendiz e estou sem perspectiva de efetivação, já que 80 pessoas foram demitidas. Há quatro meses procuro um emprego que me permita pagar a faculdade, mas não encontro."

crise na graduação - Faculdades vivem onda de trancamentos e particulares têm redução de matrículas

Segundo o consultor em ensino superior Carlos Monteiro, da CM Consultoria, após forte expansão no número de contratos do Fies, computando 750 mil só em 2014, o programa passou por reformulações e teve o número de novas vagas limitado.

"Por causa do Fies, houve um auge de ingressantes em 2014, o que não vai ocorrer mais. As pessoas começaram a sentir o peso do desemprego e têm outras prioridades."

O ministério ofereceu 311 mil novos contratos no ano passado. Já no primeiro semestre de 2016 foram 250 mil novos financiamentos.

Sobre o cenário de mais trancamentos e menos matrículas, a professora Elizabeth Balbachevsky, da USP, afirma que a situação vai se revelar pior quando os dados consolidados de 2015 forem apresentados. "Houve uma retração irresponsável no Fies. No Brasil, o único momento na trajetória escolar em que o jovem se qualifica para o trabalho é no ensino superior."

PROMOÇÕES

Entre os cursos mais afetados estão administração, engenharia, ciências contábeis e comunicação, diz Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior.

Sem novos alunos suficientes para compensar os que deixam a faculdade, o número de estudantes no ensino presencial no país deve recuar 7,5% neste ano, para 3,9 milhões, segundo a Hoper.

O quadro não será ainda pior ao longo deste ano porque as universidades têm conseguido atrair mais alunos para cursos de ensino a distância, que devem crescer 15%, para 1,6 milhão de estudantes matriculados.

As faculdades também têm oferecido bolsas e descontos nas mensalidades, em feirões montados para convencer novos alunos de que o ensino superior continua acessível. São os casos da Maurício de Nassau, com forte presença na região Nordeste, e da Fadergs, de Porto Alegre.

Colaborou PAULO SALDAÑA, de São Paulo


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