Folha de S. Paulo


Cursos de especialização estimulam debates em lugar de desafios práticos

Quem decidir investir em uma pós-graduação interdisciplinar deve estar preparado para debater as grandes questões contemporâneas.

Diferentemente de um MBA, por exemplo, a grade curricular desses cursos é carregada de conceitos teóricos que procuram incentivar o profissional a olhar os problemas sob novos ângulos.

"Esperamos que os estudantes sejam capazes de escrever ensaios sofisticados e que resolvam equações diferenciadas", descreve Lúcia Santaella, vice-coordenadora da pós-graduação em tecnologias da inteligência e design digital na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Levar exemplos práticos da rotina de trabalho não é uma preocupação, diz Santaella. "Incentivamos grupos de pesquisa e projetos que posteriormente até podem ser adaptados para governos e empresas, mas não é a regra."

O mesmo perfil de aula é oferecido no mestrado de ciências humanas e sociais aplicadas da Unicamp.

"Frequentemente, os debates em sala são levados para o campo mais filosófico e social das grandes questões da atualidade, como sustentabilidade e impactos da tecnologia em diferentes aspectos da sociedade", diz Eduardo José Marandola Junior, coordenador do programa.

Já a exigência de dedicação do aluno é semelhante aos programas tradicionais. Em muitos casos, logo na matrícula a faculdade exige que o aluno escolha em qual tema pretende se aprofundar.

O curso costuma durar dois anos, e pelo menos 30% do tempo deve ser dedicado a pesquisas que darão origem à dissertação final.

Modalidade dos curso de pós-graduação

CONTRAINDICAÇÃO

Os cursos multidisciplinares podem não ser a melhor opção para quem visa prestar um concurso público.

"Geralmente os editais pedem a pós-graduação exatamente na mesma área de graduação do candidato", diz Renate Landshoff, professora da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul).

Formada no curso Tidd, da PUC-SP, Landshoff afirma que mesmo dentro das universidades públicas há resistência ao mestrado interdisciplinar, que tem menos status que o curso tradicional.

"Por enquanto, a pós interdisciplinar me ajudou a ganhar mais notoriedade na iniciativa privada", diz.

Para Tamara Naiz, presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos, esse é um cenário que muda aos poucos.

"A universidade pública não tem que formar apenas profissionais para o meio acadêmico. Precisamos formar melhor os trabalhadores para outros setores produtivos do país", afirma Naiz.


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