Folha de S. Paulo


Alunos reciclam pedidos e mantêm protestos após recuo de Alckmin

Kevin David/Futura Press/Folhapress
Estudantes protestam na rodovia Raposo Tavares contra fechamento de escolas
Estudantes protestam na rodovia Raposo Tavares contra fechamento de escolas

Os estudantes que protestam contra a reorganização da rede estadual de ensino decidiram manter as manifestações e fechar vias, mesmo após o governo atender às principais reivindicações. A pauta de pedidos dos alunos até cresceu depois do recuo do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na última sexta (4).

Nesta segunda (7), os manifestantes bloquearam a rodovia Raposo Tavares pela manhã. À tarde, foi a vez das avenidas Rebouças, Faria Lima e de outras vias na região oeste da capital paulista.
Em seu anúncio semana passada, Alckmin afirmou que 2016, que seria o ano de implementação, passará a ser o de diálogo sobre o plano.

Esse foi justamente o principal pedido dos manifestantes no mês passado, em reunião de conciliação no Tribunal de Justiça. À época, o governo não aceitou a solicitação, e os protestos seguiram.

Depois do recuo de Alckmin, porém, os manifestantes passaram a afirmar que a principal reivindicação é a revogação completa da medida, e não mais a suspensão. Eles exigem agora também a punição a policiais militares que agrediram estudantes e a diretores de colégios que intimidaram alguns alunos.

À Folha, dois dos porta-vozes dos estudantes afirmaram que a revogação completa da reorganização sempre foi a principal bandeira deles. "Na reunião de conciliação apresentamos a proposta de suspensão para ganharmos tempo e mostrarmos que estávamos abertos ao diálogo", disse a aluna Fernanda Freitas, 17. "Mas sempre defendemos o fim da proposta."

O governador disse nesta segunda que, em sua avaliação, não há mais motivo para protestos, pois o pedido dos alunos foi atendido. No sábado, o governo cancelou decreto que autorizava a movimentação de funcionários, que a reorganização exigiria.

"Estamos acompanhando a opinião pública. Nossa avaliação é que ela segue conosco. Se mudar, podemos decidir pela saída das escolas", disse Heudes Oliveira, 18.

Pesquisa Datafolha mostrou na sexta-feira que 55% dos paulistas apoiavam os protestos dos alunos. Diferentemente dos bloqueios da semana passada, a polícia não atuou para dissipá-los nesta segunda. Mas motoristas se irritaram e tentaram liberar as vias. A Folha presenciou uma aluna de 16 anos do ensino médio levando um soco de um motorista, na zona oeste. A PM observou o tumulto, e o agressor fugiu.

Temas críticos

"É legal o protesto. Eles mereceram o que conseguiram. Agora chega, a vida continua", disse a publicitária Mariana Galvão, 35, que ficou presa no trânsito. "Mas, se fosse aluna, provavelmente estaria protestando também."

Anunciada em setembro, a reorganização visava aumentar o número de escolas com apenas um ciclo (ensino médio, por exemplo), o que poderia facilitar a gestão. Para isso, 311 mil alunos teriam de mudar de escola, e 92 colégios seriam fechados.

Sob pressão, o governo desistiu depois de a pesquisa Datafolha mostrar que Alckmin havia atingido seu patamar mais baixo de aprovação. Além disso, o Ministério Público já havia decidido entrar na Justiça para pedir a suspensão da reorganização, por entender que houve falta de diálogo no processo. No dia em que o governo suspendeu a medida, o secretário da Educação, Herman Voorwald, deixou o cargo.

ENFRAQUECIMENTO

A decisão de manter os protestos foi tomada pelos estudantes em assembleia -cada colégio pode deliberar pela saída do movimento. Segundo levantamento da Secretaria da Educação, o número de escolas ocupadas caiu de 196, na sexta, para 154 nesta segunda (são 5.100 no Estado). Estudantes afirmam que já há cansaço entre eles e falta de mantimentos.

REPOSIÇÃO

A reposição de aulas, o fim do ano letivo e a formatura dos estudantes do ensino médio ainda estão indefinidos nas escolas que foram ocupadas em protesto contra a reorganização da rede paulista. Segundo a Secretaria da Educação, caberá a cada diretor de unidade definir o calendário de reposição, pois a duração do protesto foi diferente nos colégios.

As primeiras ocupações começaram há cerca de um mês. Por lei, os colégios devem ter 200 dias letivos. Há, inclusive, a possibilidade de a reposição ter de avançar até o início de 2016. O número de colégios chegou a 196 na sexta-feira (4), mas já caiu para 154 nesta segunda (7), após o governo suspender a reorganização.

Para dificultar a reposição, alguns colégios também foram afetados pela greve de professores neste ano -a maior da história, que durou três meses -e já tinham o calendário alterado para compensar os dias parados.
Estudantes que estão se formando no ensino médio podem ter problemas adicionais para acessar o ensino superior, tanto devido à demora para conclusão das aulas quanto para o recebimento do diploma.

"Não deve ser um problema generalizado. E temos certeza de que as faculdades vão entender a situação", afirma Heudes Oliveira, 18, um dos estudantes que tem falado pelo movimento. "Eu mesmo estou me formando. Acho que não haverá problemas."

REPROGRAMAÇÃO

Com a suspensão da reorganização escolar, a Secretaria de Estado da Educação agora tem de refazer diversos planejamentos, como para compra de materiais, entrega de livros, contratos de limpeza e de segurança.

Além de colégios que não serão mais fechados, outros deixariam de oferecer ao menos uma etapa de ensino. Equipes técnicas da pasta começaram a trabalhar na reprogramação nesta segunda.

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REIVINDICAÇÕES DOS ESTUDANTES

Após o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ceder à pressão e suspender plano de reorganização dos ciclos de ensino, jovens mudaram os objetivos do movimento

O que eles queriam antes da suspensão do plano:

  • O não fechamento das 92 escolas da rede estadual
  • Debate sobre o plano proposto com a comunidade ao longo do ano de 2016, e não até o fim de 2015
  • Discussão sobre as mudanças envolvendo alunos, professores, pais, associações de pais e mestres, conselho de pais e grêmio estudantil
  • Não punição de professores, alunos e apoiadores das ocupações nas escolas estaduais
  • Garantia de participação dos formandos de 2015 nas discussões que devem ser realizadas em 2016

O que eles querem agora:

  • Cancelamento completo do plano de reorganização dos ciclos de ensino proposto pela gestão Alckmin
  • Punição aos policiais militares que agrediram estudantes durante protestos e a diretores de colégios que ameaçaram alunos durante as ocupações
  • Não punição dos participantes nas manifestações em ruas de São Paulo

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