Folha de S. Paulo


Sob protestos, Alckmin suspende plano de reorganização de escolas

Sob uma série de protestos e com seu mais baixo índice de popularidade, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu suspender o plano de reorganização da rede de ensino paulista.

A decisão, antecipada pela rádio "Jovem Pan", ocorre em meio a uma série de manifestações de estudantes contrários à medida, com a ocupação de 196 escolas, além de bloqueios de vias da capital, desde o início desta semana, de uma série de vias importantes da cidade de SP.

Em pronunciamento, Alckmin afirmou que recuou para "aprofundar o diálogo" em 2016. "Nós entendemos que devemos aprofundar o diálogo, vamos dialogar escola por escola", disse.

Alckmin falou no Palácio dos Bandeirantes, sem a presença do secretário da Educação, Herman Voorwald. Os jornalistas também não puderam fazer perguntas ao governador.

Em mais um dia de protestos, nesta sexta o centro de São Paulo teve uma chuva de bombas, durante perseguição da Polícia Militar a manifestantes que bloqueavam ruas e avenidas da região.

Um dia antes, Alckmin já havia trocado o comando das negociações com os estudantes e convocado uma audiência pública na semana que vem para tentar pôr fim à onda de ocupações de colégios no Estado. Um total de 196 escolas do Estado estão ocupadas –de 5.127 unidades no Estado.

Também ontem, Ministério Público e Defensoria do Estado entraram na Justiça com uma ação civil pública para barrar a medida.

O plano de reorganização das escolas, publicado em decreto, prevê que 754 escolas passem a ter apenas um ciclo de ensino no ano que vem (anos iniciais, finais do fundamental ou o médio).

Segundo o governo, o objetivo é melhorar a qualidade do ensino e evitar que um aluno de seis anos, por exemplo, frequente a mesma unidade de um adolescente de 17 anos. Sindicato, alunos e especialistas, porém, dizem que essas mudanças visam apenas o corte de gastos do governo, pois separar crianças e adolescentes não tem nenhuma sustentação pedagógica. Dizem ainda que o fechamento de unidades ampliará a superlotação de salas, enquanto o remanejamento mexerá diretamente com a rotina de alunos, pais e professores (que terão que percorrer distância maior para chegar à escola).

Para a aplicação desse plano, além de 92 escolas fechadas, 311 mil alunos serão remanejados -entre os 3,8 milhões de estudantes da rede.

A suspensão é também uma derrota direta do secretário Herman Voorwald (Educação), que anunciou o plano às vésperas do final do ano letivo e, nesta quinta (3), foi retirado pelo governador do comando das negociações com os alunos –função entregue ao secretário Edson Aparecido (Casa Civil).

raio-x da rede estadual -

Estudantes afetados pelas mudanças -

Destino das 196 escolas ocupadas -

Matrículas na rede estadual, em milhões -

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POPULARIDADE EM QUEDA

A decisão de Alckmin ocorre no mesmo dia em que foi divulgada pesquisa Datafolha que aponta a pior popularidade do tucano.

Nesta rodada, a pesquisa abordou dois temas diretamente relacionados ao governo estadual que podem ajudar a explicar a queda de popularidade do governador: a crise de abastecimento de água e a decisão de fechamento de escolas públicas, com o consequente remanejamento de alunos.

Em relação à remodelação nas escolas, de cada dez eleitores, seis (61%) são contra as mudanças promovidas pelo governo; três (29%) são favoráveis. A discordância chega a 69% entre os mais jovens.

Avaliação do governo Alckmin - Em %

O Datafolha também coletou a opinião do eleitorado a respeito das ocupações de escolas por parte de estudantes. A maioria (55%) manifestou apoio aos protestos -que se espalharam e já atingem 196 colégios no Estado. Outros 40% foram contra.

A pesquisa foi feita antes da decisão dos alunos de levar os protestos para as ruas, com a obstrução de vias. Antes também, portanto, das cenas de policiais tentando desmobilizar as manifestações.

Num indicativo do impacto dessas medidas no dia a dia, um terço dos entrevistados afirmou que tem filho ou algum adolescente ou criança em casa matriculado na rede pública estadual de ensino. Entre os mais pobres (renda familiar mensal de até dois salários mínimos), a taxa vai a 45%.

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