Folha de S. Paulo


Após PM desfazer cerco, escola invadida em SP tem clima tranquilo

Após a Justiça revogar a reintegração de posse na sexta-feira (14), a entrada de estudantes no colégio estadual Fernão Dias Paes não é mais impedida pela Polícia Militar. Agora, são os alunos que decidem quem pode entrar na escola.

O Fernão Dias Paes, que fica em Pinheiros (zona oeste de SP), está ocupado por estudantes desde a manhã de terça. A invasão deu origem a uma onda de ocupações a escolas do governo do Estado.

Os alunos protestam contra a decisão do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de dividir parte dos colégios estaduais por ciclos únicos de ensino (anos iniciais e finais do fundamental e o médio).

Esse plano prevê para 2016 o fechamento de 93 escolas e o remanejamento de 311 mil alunos -a rede estadual tem 5.147 escolas e atende a 3,8 milhões de alunos. Ao todo, 754 escolas atenderão só um ciclo de ensino no Estado.

No caso da Fernão Dias Paes, alunos do fundamental serão transferidos, e salas de ensino médio receberão estudantes de outras escolas.

Durante a semana, a PM impedia a entrada de estudantes e pais no colégio Fernão Dias —o clima ficou tenso em diversos momentos e a PM chegou a usar spray de pimenta contra os estudantes.

Ontem à noite, a Justiça cancelou o mandado de reintegração e polícia se retirou da frente do local. Os policiais, então, deixaram a frente do local.

Durante essa madrugada, o MTST (movimento sem-teto) invadiu seis escolas na Grande São Paulo.

Escolas de SP que serão 'fechadas' em 2016

Antes das invasões da noite lideradas pelo MTST, a Secretaria do Estado da Educação informou que oito escolas da rede paulista haviam sido ocupadas por alunos que protestam contra a proposta de reorganização dos ciclos de ensino.

Três escolas ficam na Grande São Paulo –Valdomiro Silveira, Diadema e Heloísa Assumpção– e as demais na capital –Fernão Dias Paes, Dona Ana Rosa de Araújo, Salvador Allende Gossens, Castro Alves e Pio Telles Peixoto.

PINHEIROS

Após a Justiça revogar a reintegração de posse da unidade, os alunos afirmaram neste sábado (14) estar preparados para permanecer por tempo indeterminado na unidade. "Não estamos aqui para tomar posse da escola, mas porque queremos ser ouvidos".

"Estamos a 100 horas aqui e, até agora, só vieram negociar a nossa saída e não nossas demandas", afirma o estudante Heudes Oliveira, 18, porta-voz dos alunos que ocupam a Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros (zona oeste).

Sem a presença ostensiva da PM no local (havia apenas uma viatura na rua), clima era tranquilo. A avenida Pedroso de Morais permanecia com uma faixa bloqueada, onde concentravam barracas e simpatizantes do movimento.

Com autorização para entrada e saída dos alunos, os estudantes preparavam atividades para realizar na unidade no fim de semana. "Hoje vai ter cinema. Amanhã vai ter um sarau. E vamos continuar pressionando o governo", disse Heudes.

Para ele, recuos do governo como a desistência de fechar uma escola em Piracicaba, no interior do Estado, ainda são muito pouco perto do objetivo da manifestação, de que o governo volte atrás na decisão de implementar a reforma escolar.

NA ZONA LESTE

Na escola Salvador Allende, zona leste, funcionários orientavam os pais sobre a reorganização dos ciclos de ensino. Cerca de 60 estudantes ocupam a escola neste sábado.

Moisés Melo, diretor da escola, fez uma reunião com 25 pais. Alguns pais questionaram sobre o futuro do prédio, que pode receber, a partir de 2016, cursos técnicos ou uma creche.

Na grade do colégio, uma faixa ironizava as mudanças: "Mamãe mandou eu estudar, mas a escola o governo mais fechar".

Infográfico: Mudanças na educação

ZONA NORTE

Na escola estadual Castro Alves, na zona norte, cerca de 50 alunos passaram a noite nas salas de aula.

Eles estão recebendo doações de alimentos e água mineral de moradores da região. Como o acesso à escola é livre, muitos estudantes também vão comer em casa.

Na tarde de hoje, alunos, professores e sindicalistas discutam atividades para realizar durante o período da ocupação, como sarau e projeção de filmes.

Em nota, a secretaria disse que "se mantém aberta ao diálogo, mas não apoia atos de vandalismo orquestrados por entidades que não estão em busca da melhoria do ensino".


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