Folha de S. Paulo


Análise

Mudança nas escolas de SP tem ganhos incertos e prejuízos certos

A aposta que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) fez com a reorganização das suas escolas foi alta. O resultado pedagógico é incerto. Os prejuízos, por outro lado, chegaram imediatamente.

A política parte da premissa de que reunir estudantes de idades e séries semelhantes no mesmo colégio ajuda na gestão escolar, que ajuda na melhoria do ensino.

Há pouca dúvida de que seja mais fácil administrar um colégio só com adolescentes ou só com crianças menores.

Mas será que esse ganho compensa os transtornos que causam o fechamento de 94 escolas e a transferência de 311 mil estudantes?

Segundo o secretário de Educação, Herman Voorwald, uma das vantagens da medida é facilitar a adaptação das unidades para uma clientela específica. Laboratórios para os maiores, carteiras mais baixas para os menores. Não houve até o momento, porém, anúncio de plano de obras ou de compra de equipamentos como complemento à reorganização.

O governo afirma também que escolas de ciclo único têm desempenho melhor que as demais. Diferença que chega a 28% no ensino médio, entre escolas com um ciclo e com três (anos iniciais e finais do fundamental e o médio).

O estudo da secretaria, porém, não detalhou o quanto dessa diferença se deve especificamente ao ciclo único.

Correlações no campo educacional trazem armadilhas. Pesquisadores brincam que um cruzamento simples pode indicar que quantidade de banheiros impacta na qualidade de ensino. Por quê?

Colégios onde os alunos são mais bem atendidos com banheiros tendem a ter notas melhores. Mas a razão das melhores notas seriam os banheiro? Não, eles apenas indicariam que essa unidade tem melhor estrutura. Provavelmente não adiantará construir banheiros para melhorar a qualidade do ensino.

A segunda fase da discussão é a implementação da reorganização. Aqui é difícil encontrar solução pouco traumática. Uma opção seria o secretário definir, sozinho e de forma centralizada, quais escolas seriam fechadas e como seria a movimentação de alunos. Seria comparado a um ditador.

Também poderia fazer ampla consulta a alunos, famílias e professores. Dificilmente as estatísticas, mesmo que sólidas, convenceriam.

O governo optou por anunciar a medida de forma genérica inicialmente, para não parecer que havia algo tramado embaixo dos panos. E chamar os 91 dirigentes de ensino para ajudar no processo.

Nesse período de mais de um mês, houve protestos quase diários e uma onde de boatos, inclusive de que centenas de escolas iriam fechar.

Agora que toda a reorganização foi divulgada, algumas escolas estão ocupadas, em protesto contra a medida.

O governo, que viveu neste ano a maior greve docente da história, enfrenta assim mais um período de tensão com alunos e professores.

Também se mostraram reticentes à medida diferentes organizações, como Apeoesp (sindicato estadual docente), Faculdade de Educação da Unicamp e as ONGs Cenpec e Todos pela Educação.

Algumas das reclamações explicitadas são a falta de transparência nas informações (citada pelo Todos pela Educação) e o erro na prioridade (Cenpec aponta que fechar escolas significa diminuir investimento na educação e que as famílias enfrentarão "complicada logística" com os deslocamentos).

Com tanta desaprovação, a reorganização terá força para efetivar os potenciais ganhos, que ainda estão no campo teórico?

O apoio mais expressivo à medida veio até agora de membros do Conselho Estadual da Educação, como a ex-secretária Rose Neubauer (gestão Mario Covas).

Ela defende que a medida pode causar transtornos agora, mas ainda trará frutos. Seria uma virada e tanto.


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