Folha de S. Paulo


Pais aderem a ato de alunos em SP, mas pedem invasão 'sem baderna'

"Estamos apoiando aqui, mas tem de ser tudo sem baderna", diz a dona de casa Cristiane Mai, 42, que aderiu à ocupação da Escola Estadual Castro Alves, na Vila Mariza Mazzei (zona norte).

Ela e outras mães de alunos engrossaram o movimento na tarde desta quinta-feira (12). Em comum entre eles, estava a preocupação de que a manifestação fosse feita de maneira pacífica e sem depredação "para não perder a razão".

À tarde, a ocupação ainda era parcial porque algumas classes tinham aula.

O protesto é contra a decisão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de fechar 94 unidades estaduais a partir de 2016. Até a tarde desta quinta, cinco escolas já tinham sido ocupadas por estudantes na capital paulista e Grande SP.

"Não acho certo fechar escola", diz Cristiane ao lado do filho Lucas, de 11 anos. "Se manifesta, diz para ele se você acha certo fechar", ela diz ao menino, após a reportagem questioná-lo. Tímido, em seu primeiro protesto, o garoto se limita a dizer não.

A dona de casa Ione Gomes, 40, com filhos de 14 e 11 anos, foi à escola preocupada porque agora terá de levar os meninos a uma unidade a mais de 2 km dali.

"Aqui, fica a 10 minutos de casa. Vim um pouco mais cedo, voltei agora e virei também amanhã", afirma. "O certo era abrir escolas, né?"

O professor de história Israel Silva Jr., 60, disse que não queria deixar sozinhas as duas sobrinhas que participavam da manifestação.

"Eu dei aula aqui, meus seis filhos estudaram aqui", conta ele, que conhece bem a história da escola Castro Alves. "Ela foi criada em 1951 por decreto do Getúlio Vargas".

Segundo ele, depois disso vários políticos famosos visitaram a escola, inclusive o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Infográfico: Mudanças na educação

Além dos pais e alunos, vários professores também foram até a escola. "Aqui falta tudo, material de higiene, papel e até água. Agora querem fechar", disse uma das docentes.

Enquanto isso, os alunos se preparavam para passar a noite na escola. Carregavam caixas com suco, pão e bolo que chegaram ao local.

"Não sei quem mandou, mas desconfio", disse a estudante Tatiane Ladislau, 16.

A escola ainda tinha classes tendo aula, mas a partir das 19h seria "ocupação total". "Ninguém mais entra. Amanhã a gente vai decidir se entra aluno, professor".

Tatiane conta que tem frequentado muitos protestos ultimamente e que, por isso, não teme um eventual cerco da polícia. "Tudo que eu já tinha de passar eu passei em outras manifestações. Já jogaram até spray de pimenta em mim".

Outros adolescentes iam chegando conforme anoitecia. "Mãe, por favor, não vai pegar nada. A gente só quer lutar pelos nossos direitos", dizia uma jovem ao telefone celular.

No próximo sábado (14), as unidades da rede estadual abrirão para receber pais e responsáveis para sanar eventuais dúvidas e passar informações sobre a reorganização das escolas.


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