Folha de S. Paulo


Reformulação da rede paulista vai envolver 'entrega' de 94 escolas

A reformulação das escolas da rede paulista por ciclos de ensino a partir do ano que vem envolverá a "entrega" de ao menos 94 unidades atualmente ocupadas por estudantes dos ensinos básico e médio de São Paulo.

Dessas 94 escolas, distribuídas em todo o Estado, 66 serão repassadas para as redes municipais (que poderão transformá-as em creches ou pré-escolas) ou serão aproveitadas pelo próprio governo Geraldo Alckmin (PSDB) como unidades de ensino técnico, de ensino de línguas ou de educação de jovens e adultos. Outras 28 unidades ainda estão com o destino incerto –o governo negocia sua utilização com as prefeituras.

O Apeoesp (sindicato dos professores do Estado de São Paulo) deve continuar a promover protestos contra a medida proposta pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) que reorganiza escolas da rede estadual em ciclos únicos de ensino. "Essa semana, a tendência é que haja mais atos. As escolas que forem afetadas, com certeza, irão se mobilizar", diz a presidente do sindicato, Maria Izabel Noronha.

A gestão Alckmin decidiu dividir os colégios estaduais de São Paulo por ciclos de ensino, em um plano que vai fazer com que cerca de 311 mil alunos da rede paulista mudem de escola a partir do ano que vem. A rede estadual paulista tem 5.147 escolas e atende a 3,8 milhões de alunos. Ainda não foi divulgado a lista das unidades que sofrerão mudanças.

O governo se calca em estudos que mostram que colégios que atendem uma única etapa de ensino têm notas melhores. A Secretaria de Educação cita como exemplo levantamento interno que apontou que as notas dessas escolas estaduais possuem rendimento 22% superior ao das demais.

"Ao longo dos anos ficará claro que essa é uma ação importante para melhorar a qualidade do ensino", afirmou o secretário da Educação, Herman Voorwald.

Apresentada em linhas gerais em setembro, a iniciativa provocou uma série de críticas e manifestações de estudantes, pais de alunos, sindicato e movimentos estudantis contra o fechamento de escolas. O sindicato dos professores chegou a falar no fechamento de 155 unidades. Sobre isso, o secretário disse que "meu compromisso é de garantir que os meninos estudem na melhor escola possível. A quem interessa protestar contra isso?", indagou Voorwald.

Quando lançou a proposta, em setembro, o governo chegou a dizer que a reorganização poderia abranger até um milhão de estudantes. O número final ficou menor porque, segundo a secretaria, em alguns casos não foi preciso fazer o remanejamento; em outros, não houve condições (não havia outra unidade próxima ou o colégio próximo era de difícil acesso).

Reorganização escolar na rede de SP

Com a reformulação, a Secretaria de Estado da Educação vai criar 754 escolas de ciclo único –focadas em uma única faixa etária. Segundo a pasta, o ciclo único atingirá um total de 2.197 escolas (43%) em todo o Estado a partir de 2016. Em relação as escolas com dois ciclos, a secretaria informou que haverá uma redução de 18% –passando de 3.209 para 2.635.

Entre os critérios usados para reformular os ciclos, segundo a pasta, estão o número máximo de alunos por sala e a distância de até 1,5 km da atual escola para a nova unidade. "A reorganização da rede atende a uma mudança demográfica no Estado, que, desde 1998, teve um declínio de 2 milhões de alunos em suas unidades de ensino, e à constatação de que escolas de segmento único, modelo a ser intensificado, têm rendimento superior às demais."

"O momento é propício para mudanças e elas são necessárias. O rol de prédios construídos nos últimos anos atende a uma população que diminuiu consideravelmente e, por isso, é possível que agora entreguemos escolas melhores, focadas em ações pedagógicas para cada etapa do ensino", afirma o secretário.

Escolas de ciclo único

No dia 13 de outubro, Voorwald, afirmou que os estudantes das escolas públicas de São Paulo também deveriam protestar quando professores da rede de ensino fizerem greves extensas. Neste ano, docentes fizeram paralisação de 89 dias, a mais longa da história da rede –e que terminou sem que a gestão tucana tenha feito proposta de reajuste salarial.

"É muito interessante o aluno protestar. Quem sabe estejamos criando na educação o protesto para que não falte professor. Para que as greves [de professores] não sejam tão extensas, para que uma greve de 90 dias seja um absurdo numa rede de 4 milhões de estudantes", disse à Folha, por telefone, na ocasião.


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