Folha de S. Paulo


Uma em cada cinco crianças no Brasil não sabe ler aos oito anos

Uma em cada cinco crianças matriculadas no 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas do país não tem desempenho adequado em leitura. No quesito escrita, são 34,46% dos alunos abaixo do nível esperado.

Esses estudantes estão classificados no nível 1 da ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização). Isso significa que não conseguem ler um texto básico. "Os [estudantes] do nível 2 leem texto simples e têm habilidades mais simples, como recuperar uma informação. Uma habilidade que demanda mais: inferir o fim da história. No nível 2 e 3, os alunos estão lendo. E no nível 4 estão lendo além do esperado hoje", explicou Chico Soares, presidente do Inep (instituto do MEC responsável pelo exame).

Infográfico: Níveis de leitura

Em escrita, esses alunos podem apresentar desempenho com troca ou omissão de letras e produzem textos ilegíveis ou com grande quantidade de erros ortográficos. "A situação de escrita é pior do que a de leitura", afirmou Soares. Em ambas as áreas, as regiões Norte e Nordeste têm desempenho inferior à média nacional.

Infográfico: Níveis de escrita

O diagnóstico foi feito a partir da ANA, aplicada no ano passado para cerca de 2,3 milhões de alunos do 3º ano do fundamental, em 49 mil escolas públicas do país. Os resultados foram divulgados nesta quinta-feira (17) pelo Ministério da Educação.

"Esse é o ponto que mais inspira preocupação", afirmou o ministro Renato Janine (Educação), sobre o grande número de alunos com baixo desempenho em leitura e escrita. "A gente não deve fugir da realidade de que temos crianças que, aos 8 anos, não estão onde deveriam estar", afirmou Chico Soares, presidente do Inep (instituto do MEC responsável pelo exame).

O teste é uma das ações do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado pela presidente Dilma Rousseff em 2012. O objetivo é garantir que, ao final dessa etapa escolar, todas as crianças brasileiras estejam plenamente alfabetizadas. Além de uma prova nacional, a iniciativa prevê a formação de alfabetizadores e distribuição de material didático para os docentes.

'INACEITÁVEIS'

O secretário-executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa, reconheceu que alguns números são "inaceitáveis", mas a pasta pondera que o objetivo da ANA, a partir de agora, é contribuir para melhorias em sala de aula.

"Esses dados vão indicar muito bem ao responsável onde deve ser a intervenção pedagógica principal. Se seu aluno nem palavras escreve é uma coisa. Se ele está no nível 3, é outra coisa. Não é uma questão de ranking, de punição, é de orientação", concluiu Janine.

MATEMÁTICA

Em matemática, 57% das crianças matriculadas em escolas públicas do país têm baixo aprendizado em matemática.

Esse grupo é capaz, por exemplo, de ler horas e minutos em relógio digital, ou resolver problemas com números até 20, mas tem dificuldade em entender um relógio analógico ou solucionar questões com números superiores a 20.

Infográfico: Níveis de Matemática

Em matemática, 22 Estados têm mais da meta de seus alunos em níveis inadequados de aprendizagem –os piores indicadores são de Amapá (82,86% dos alunos) e Pará (81,43%). As regiões Norte e Nordeste apresentam os piores resultados: 74,89% e 74,08%, respectivamente.

Realizada pela primeira vez em 2013, a aplicação da ANA foi suspensa neste ano, motivada pelo corte de R$ 10,2 bilhões no orçamento do MEC. A pasta afirma que o exame volta a ser aplicado em 2016.

Infográfico: Desempenho por Estado


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