Folha de S. Paulo


Monitorar alunos é chave para casos de sucesso em educação pelo mundo

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O acompanhamento sistemático do desempenho dos estudantes por meio da construção de uma base de dados sobre as escolas tem ajudado realidades distantes como a Austrália e a província de Ontário, no Canadá, a alcançar metas de melhoria da educação.

O monitoramento do desempenho, aluno por aluno, vem permitindo a essas regiões reduzir lacunas de aprendizado entre os segmentos mais vulneráveis da população, como os aborígenes na Austrália e imigrantes no Canadá.

"São muitas as estratégias utilizadas para melhorar o desempenho escolar na Austrália, mas o foco no monitoramento do desempenho dos estudantes vem surtindo efeitos significativos", afirmou Barry McGaw, ex-presidente do Conselho da Acara (Australian Curriculum, Assessment and Reporting Authority), da Austrália. McGow apresentou a experiência australiana em educação durante o Seminário Internacional de Gestão Escolar 2015, promovido pelo Instituto Unibanco e correalizado pela Folha.

A Austrália é um país federativo como o Brasil, mas as semelhanças, no que tangem à educação, terminam nesse ponto. O país foi bem-sucedido na implementação de um currículo nacional, enquanto o Brasil ainda discute a questão. A capacitação de professores e o monitoramento dos alunos têm levado os australianos a definir metas cada vez mais arrojadas de melhoria dos padrões. Essas metas são revisadas a cada década, e incluem, por exemplo, aumentar para 90% dos alunos a obtenção do diploma de ensino médio ou equivalente até 2020; e reduzir à metade as distâncias de aprendizado entre estudantes aborígenes e não aborígenes.

Uma das ferramentas de monitoramento dos alunos é o site My School, que "já se tornou uma marca", nas palavras de McGaw. Lançado em janeiro de 2010, traz uma base de dados tão completa que permite que os pais de alunos comparem o desempenho da escola de seu filho em testes com outras escolas. Em uma consulta à página, é possível verificar as notas e o progresso escolar de cada aluno ao longo dos seus anos de estudo e até mesmo como a escola gerencia suas receitas e despesas.

ONTÁRIO

O Canadá possui um sistema educacional descentralizado, onde cada uma das dez províncias e três territórios possui estruturas e políticas próprias de educação. A província de Ontário se destaca, sendo considerada um dos melhores sistemas de educação do mundo (comparada a países como Finlândia e Coreia do Sul).

Além de exigir mais anos de escolaridade do que a média do país –obrigatória até os 18 anos, enquanto em outras províncias é até 15 ou 16 anos–, o acompanhamento dos alunos também é um dos pilares da excelência.

Em 2003, uma série de reformas começou a ser implementada, com a fixação de metas para melhoria dos indicadores educacionais, especialmente junto à população imigrante –um relatório do mesmo ano havia classificado como "hostil' o ambiente das escolas. Atualmente cerca de 25% dos alunos da província nasceram fora do Canadá e não tem a língua inglesa ou francesa como nativas, e a cada ano ingressam nas escolas públicas cerca de 40 mil novos alunos recém-chegados ao país.

"Começamos olhando para as escolas que apresentavam desempenho abaixo da média e passamos a criar sistemas que permitiram a coleta de informações sobre o nível dos alunos em toda a província", explicou Mary Jean Gallagher, vice-ministra de Educação da província de Ontário. Com esses dados em mãos, foi possível acompanhar as escolas com mais precisão, com resultados positivos.

Em 2004, havia 760 escolas com mais de 33% dos alunos com fraco desempenho por dois anos consecutivos; em 2015, são apenas 63 escolas com metade dos alunos com desempenho abaixo do esperado. O currículo escolar é avaliado e aperfeiçoado a cada cinco anos, o que tem permitido ainda o bônus, segundo Gallagher, do bom desempenho em exames internacionais como o Pisa, o desempenho de Ontário (528 pontos) é superior à do Canadá (526).

INGLATERRA

Até a década de 1980, a Inglaterra era considerada o "paciente doente da Europa" no quesito educação. "Foram três décadas perdidas com baixo desempenho educacional, o que afetou economicamente o país", afirmou Michael Wilshaw, chefe de inspeções do Ofsted (Escritório de Padrões em Educação) do Reino Unido. A situação começou a mudar quando o tema se tornou central nas políticas públicas –mais timidamente na gestão da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-1990) e depois com mais ênfase com Tony Blair (1997-2007).

A situação do sistema educacional inglês começou a passar por mudanças a partir de 1988, com o Ato Educacional, lei que definiu o currículo nacional, a política de avaliações das escolas e a criação de instituições com maior autonomia –permitindo inclusive a parceria entre escolas públicas e instituições privadas, como forma de obter mais recursos para a gestão escolar. A partir de 2010, ganharam impulso as chamadas escolas Livres ("Free Schools"), criadas por grupos comunitários de forma autônoma, como forma de responder às demandas locais.

Para Wilshaw, que tem mais de 40 anos de atuação no ensino público, a qualidade da educação na Inglaterra avançou, mas é preciso continuar investindo na formação de professores. "Tivemos 20 anos de rápidas mudanças, mas o padrão tende a ficar estagnado se o investimento na formação de lideranças não for contínuo", ressaltou.


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