Folha de S. Paulo


Professores da USP criam rede de combate à violência sexual

Mais de 250 professoras da USP, de diferentes unidades, formaram uma rede de combate à violência sexual nos campi. A expectativa é que, com mecanismos de proteção e apuração mais eficazes, as denúncias aumentem e os episódios sejam evitados.

Alunas da Faculdade de Medicina começaram a fazer denúncias nos últimos meses, dando evidência ao problema. De acordo com as professoras, todas as unidades registram casos com frequência, mas as mulheres não têm coragem de denunciar.

"O objetivo é romper com o silêncio", afirma Márcia Lima, professora de sociologia.

A primeira reunião do grupo, intitulado Quem Cala Consente, ocorreu na última quinta-feira (23). As professoras pretendem elaborar grupos de acolhimento às alunas em cada unidade.

Também vão desenhar novos modelos de apuração, repensar o código de ética e o estatuto da universidade, considerados pelas professoras ineficazes para punir e evitar episódios de violência.

A rede usará a expertise de cada integrante (medicina, direito, psicologia, entre outras) para atuar em diferentes frentes.

Outra ação será produzir campanhas de conscientização com materiais alertando sobre consentimento e respeito e temas correlatos.

"Queremos ter independência da reitoria, porque demandamos [mudanças] e não estamos sendo ouvidas", afirma Heloísa Buarque de Almeida, 50, da antropologia e idealizadora da rede.

A ideia é que a rede seja formada exclusivamente por mulheres. Ainda que muitos homens tenham apoiado a iniciativa e que seu objetivo inicial seja dar suporte às estudantes, diz Almeida, também as professoras sofrem assédio na universidade.

"Tem muito machismo entre professores, principalmente nas unidades mais tradicionais, como Medicina, Direito e Poli [engenharia]", afirma Almeida.

Além disso, ela observa, "alunos que foram denunciados como agressores estão aqui, circulando nos corredores", o que não deixa de gerar, senão medo, constrangimento. "A gente sabe que, por sermos professoras, estamos um pouco mais protegidas, mas não totalmente."

Procurada, a USP não comentou.


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