Folha de S. Paulo


Por Fies, aluna madruga na porta da FMU, mas só consegue data para voltar

Rafhaela Melo, 19, aluna do curso de economia da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), passou a madrugada desta quinta-feira (12) em uma fila em frente à escola para fazer a contratação do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Ela já havia tentado regularizar seu cadastro por duas vezes. A FMU diz que aumentou o número de atendentes em 80%, mas que enfrenta "lentidão no sistema do Fies".

Avener Prado/Folhapress
Rafaela Melo, 19, com o noivo Wellington Akira, em frente à faculdade FMU,
Rafaela Melo, 19, com o noivo Wellington Akira, em frente à faculdade FMU,

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Depoimento...

Acabo de começar o segundo semestre no curso de economia da FMU [Faculdades Metropolitanas Unidas] e decidi fazer cadastro no Fies.

Paguei a mensalidade durante os primeiros seis meses porque não tinha certeza se iria seguir nessa área, mas percebi que é isso o que quero.

Moro com meus pais e uma irmã em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), mas não tenho ajuda para minhas contas. Eu pagava o valor da mensalidade, da parcela do carro e dos livros do curso. É muito custo para arcar sozinha.

Passei vários dias tentando me cadastrar no site do Fies e só consegui concluir a inscrição no último fim de semana. A cada hora o site travava em uma etapa diferente. Agora eu tinha que levar os documentos à faculdade para efetivar a inscrição.

No primeiro dia [terça, 10], cheguei às 8h. A fila já tinha uns 300 m e só seriam distribuídas 200 senhas. Fiquei cerca de meia hora esperando e desisti.

Nesse dia, teve uma manifestação que fechou a avenida [Liberdade, no centro de São Paulo], mas eu não quis participar. Decidi voltar no dia seguinte.

Cheguei às 5h [na quarta-feira, 11], mas já havia mais de 200 pessoas lá. Não ia adiantar nada ficar esperando de novo.

Falei com a primeira pessoa da fila e ela me disse que chegou às 22h. Era o jeito.

Na noite de quarta [11], o professor liberou os alunos um pouco mais cedo, às 22h, então saí da faculdade e sentei na calçada, onde fiquei a noite inteira. Meu noivo [Wellington Akira, 20] chegou pouco tempo depois para ficar comigo.

Eu fui despreparada. Não tinha caído a ficha até o momento em que sentei na rua e pensei: "O que estou fazendo aqui?".

Coloquei umas folhas de caderno sobre a calçada para não ficar direto no chão.

Na saída dos alunos, todo mundo esbarrava na minha mochila. Estávamos bem na passagem. Só melhorou depois das 23h.

Nessa hora, um funcionário da faculdade disse que era desnecessário ficar lá fora. Falou que todos seriam atendidos a partir das 8h.

Só que a FMU tem só um centro de atendimento para os estudantes com Fies espalhados por todas as unidades da faculdade.

Passei a noite acordada, com frio e com medo. Por mais que estivesse com meu noivo, não estava segura. Passaram muitas pessoas estranhas lá, nem mexi no celular para não abusar da sorte.

Ficamos conversando com outros estudantes que chegaram na fila, cada um contava seu caso.

A gente usava o banheiro do Habib's, que era o único lugar que estava aberto.

Editoria de Arte/Folhapress
Criado em 1999, programa federal financia alunos de faculdades privadas
Criado em 1999, programa federal financia alunos de faculdades privadas

O portão da faculdade abriu às 7h45 e fomos levados a um auditório. Recebi a senha número 1 e disseram que iriam começar a atender às 8h.

Um funcionário da faculdade falou a todos que esses problemas eram por causa da lentidão no sistema do Fies.

Fui atendida às 8h30. Simplesmente me deram uma nova senha para retornar na terça-feira [17]. Não olharam meus documentos nem nada. Corro o risco de chegar aqui e ter alguma coisa errada e eu ficar sem o Fies.

Já estou preparada para dormir na rua de novo na madrugada de segunda para terça. Dessa vez, irei de carro e vou revezar com meu noivo para um ficar na fila enquanto o outro dorme um pouco.

Nós planejamos nos casar em janeiro do próximo ano. Só espero que não seja no mesmo período em que ocorre a renovação do Fies.


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