Folha de S. Paulo


Corte no Fies leva alunos e universidades a contraírem dívidas

Em meio a restrições impostas neste ano pelo governo Dilma ao Fies, alunos e faculdades têm adotado alternativas para evitar a desistência em massa de calouros.

Algumas instituições decidiram arcar com parte do gasto que alunos terão no novo formato. Já os estudantes têm recorrido a empréstimos bancários, ainda que não consigam suportar as despesas.

Sem anúncio oficial, a União já tornou mais dura neste ano, em meio à crise orçamentária, as regras para financiar a mensalidade dos alunos. As instituições dizem que foram fixadas medidas como teto para mensalidades, além de dificultar a inscrição em cursos sem nota 5 na avaliação federal (de 1 a 5).

Escolas e alunos reclamam que passam dias tentando fazer a inscrição, sem sucesso. Há filas em instituições, como a FMU, de estudantes que tentam obter cadastro. A inscrição tem sido mais difícil para os novos, mas os que precisam renovar também se queixam.

Inscrita no Fies, Amanda Betega, 20, pediu transferência de faculdade no semestre passado e, desde então, ficou descoberta. A dívida com a Anhembi Morumbi chega a R$ 6.000, e sua matrícula foi barrada. Para não perder conteúdo, ela tem frequentado as aulas como ouvinte. Mas convive com a ameaça de que a catraca será trancada.

"Estou sendo tratada como um nada. Mas é culpa do governo, não minha", diz.

Trancar a matrícula custaria o mesmo que cursar o primeiro semestre na Unip. Por isso, Adriana Almeida, 23, pediu para o namorado contrair uma dívida no banco -ela não tem conta corrente.

Egressa da rede pública, a aluna contava com o Fies para realizar o sonho da família de completar o ensino superior, mas já se foram duas mensalidades e ela ainda não conseguiu se inscrever.

"Não tenho como pagar. Não sei se vou continuar", disse. "Estou revoltada. O Fies, ao mesmo tempo que abriu, fechou uma porta."

Avener Prado/Folhapress
Sem o Fies, Adriana Almeida, 23, recorreu a um empréstimo no banco para pagar a faculdade
Sem o Fies, Adriana Almeida, 23, recorreu a um empréstimo no banco para pagar a faculdade

"Estamos sentindo que há limitação de vagas. Mas os critérios são obscuros, ninguém falou claramente", disse o diretor financeiro do grupo Estácio de Sá, Virgílio Gibbon.

A instituição decidiu firmar parceria com empresa que oferece empréstimo privado, o Pravaler. A escola vai pagar o que seria cobrado de juros dos alunos; a estes, caberá pagar a mensalidade, de forma escalonada, e a inflação.

Uma faculdade privada na Grande SP, que pede para não ser identificada por temer retaliação, disse que cobrará dos alunos a diferença entre a mensalidade fixada pelo ministério e o valor "real". A defasagem estaria perto de 30%.

Segundo as escolas, na definição do teto da mensalidade, o governo aplica 6,5% de reajuste, referente à inflação. Mas faculdades reclamam que o dissídio para professores e contas como água e luz geram aumentos maiores.

PROBLEMA TÉCNICO

O secretário-executivo do Ministério da Educação, Luiz Cláudio Costa, afirma que tem havido dificuldades técnicas no site devido a uma carga maior de acessos.

Mas, diz ele, "todos os mais de 1,9 milhões que já possuem financiamento terão os contratos aditados [renovados]".

A sobrecarga no site ocorre porque a pasta deixou esse sistema fechado por cerca de um mês no início deste ano, sob a alegação de que estava sendo atualizado.

Em relação a alunos que querem ingressar no programa neste ano, Costa afirmou que haverá "número significativo" de novos contratos, mas que a quantidade final depende da demanda pelo programa e em quais cursos querem se inscrever (se for nos que possuem nota 3, haverá mais dificuldade).

O secretário negou que os novos critérios do programa sejam "obscuros". "Estamos nos reunindo constantemente com as instituições, dialogando com estudantes."

Editoria de Arte/Folhapress

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