Folha de S. Paulo


Jovem interessado em intercâmbio tem de viajar por teste de inglês

Alunos que pretendem fazer intercâmbio em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália têm sido obrigados a viajar até para outros Estados do Brasil para fazer os testes de inglês exigidos pelas instituições estrangeiras.

A demanda por certificados de proficiência em língua estrangeira deu um salto com o Ciência sem Fronteiras, programa federal para graduação e pós no exterior.

Se não planejam com antecedência, os candidatos se veem com poucos dias para entregar a inscrição e a nota de língua estrangeira. Com os centros de inglês mais tradicionais indisponíveis, acabam sendo forçados a recorrer a locais afastados ou com instalações precárias.

São salas superlotadas, computadores que pifam, fones de ouvido com volume baixo, lápis sem ponta. A parte mais crítica é a prova oral: no Toefl, o exame mais usado, os estudantes devem conversar com o computador.

Zanone Fraissat/Folhapress
Gabriel Lisboa, 20, que quer estudar na Austrália; ele recomenda ligar o computador do teste rápido para não se distrair
Gabriel quer estudar na Austrália; ele recomenda ligar o computador do teste rápido para não se distrair

"Não é possível, gente. Pago quase R$ 500 para ficar numa sala amontoada de gente, divisórias de papelão, com pessoas falando alto por todos os lados. Atrapalhou meu desempenho", desabafou Rafael Anastácio Alves, 25, no site "Reclame Aqui", sobre o local de prova no Rio de Janeiro.

Estudante de engenharia da computação no Rio, ele disse à Folha que quer fazer especialização pelo Ciência sem Fronteiras nos EUA. Não obteve a nota esperada. Um ano antes, Alves já tinha se deslocado para Barra Mansa (a 110 km do Rio) pelo Toefl, onde ficava o único centro aplicador disponível na data necessária.

Às vezes, as viagens são mais longas: de São Paulo a São Luís, de Brasília a Recife.

Apesar dos cinco meses de antecedência com que se inscreveu no Toefl, Daniela Ruzzarin, 19, não encontrou sala para fazer a prova em Porto Alegre. Precisou viajar para Criciúma, em Santa Catarina.

"Já tinha ouvido falar que era difícil, mas, com tanta antecedência, achei que seria mais fácil", afirma a aluna de engenharia, que quer estudar nos Estados Unidos.

A procura por cursos preparatórios acompanhou a alta. Gerson Taffarel, dono da escola Linguagem Cultural, em Porto Alegre, recomenda ao menos dois meses e meio de estudos para candidatos com nível avançado de inglês.

"As turmas eram semestrais. Agora abrimos vagas a cada bimestre. E sempre tem procura", afirma Mozar Oliveira, supervisor acadêmico da associação Alumni, em SP.

O estudante de engenharia Gabriel Lisboa, 20, quer ir à Austrália. Ele desenvolveu uma técnica para diminuir a distração no Toefl, agravada por salas superlotadas.

"Aconselho a ligar o computador o mais rápido possível. Assim, você faz a prova escrita antes de as pessoas começarem a fazer a parte oral."

A ETS, que aplica o Toefl, não respondeu aos contatos. Em julho, depois da divulgação de vídeo mostrando possíveis fraudes do Toefl, a Inglaterra deixou de aceitar exames da ETS.

Outros testes tiveram aumento na procura. O britânico Ielts ampliou o número de vagas e locais para a realização das provas.

As certificações Cambridge tiveram 15% de aumento na procura nos últimos quatro anos. A diretora de marketing no Brasil, Ana Luísa Bartholo, disse que a instituição prefere ampliar o número de candidatos por centro a expandi-los, para garantir a qualidade.


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