Folha de S. Paulo


Indústria quer participar de elaboração de currículo universitário

Depois de reclamarem por anos da quantidade e da qualidade dos engenheiros no país, representantes das indústrias decidiram apresentar nova sugestão. Querem participar da elaboração dos currículos das faculdades.

A proposta foi apresentada semana passada por grupo de trabalho da Confederação Nacional das Indústrias em seminário com acadêmicos e membros do governo federal, em São José dos Campos (interior de São Paulo).

A avaliação dos industriais é que o Brasil precisa formar mais engenheiros. Levantamento da entidade aponta que nos EUA a presença desses profissionais no mercado de trabalho é três vezes maior.

"E mesmo os que se formam em faculdades bem avaliadas não estão preparados para o mercado de trabalho", afirma Paulo Mól, coordenador do grupo da CNI.

Um dos principais problemas destacados pela indústria é que os cursos de engenharia valorizam demasiadamente as chamadas competências técnicas (cálculos), em detrimento a outras habilidades exigidas no
mercado de trabalho, como gestão de pessoas ou de custos.

Num currículo típico de engenharia no país, 10% da carga horária é destinada a matérias como orçamento ou controle de processos. O restante é distribuído em cálculo, física e outras correlatas.

"A primeira coisa que um engenheiro vê quando entra numa empresa é o software sobre gestão de projetos, com prazos e metas. E ele não viu isso no curso", disse Mól.

Para vencer o problema, a CNI sugere "aumento da integração entre cursos e setor de produção incluindo, necessariamente, equipe de empresas na formulação de currículos", segundo documento discutido no seminário.

Outras sugestões da indústria foram a criação de centros de pesquisa que envolvam a indústria e faculdades e de grupo que estude e combata a evasão nos cursos.

Com as medidas, a confederação espera que os formados estejam mais próximos do esperado pelo setor produtivo e em maior quantidade. Desde a década passada as indústrias reclamam de falta de profissionais.

O documento será enviado ao Ministério da Educação e para grupos de acadêmicos.

REPERCUSSÃO

Ex-diretor da Escola Politécnica da USP, José Roberto Cardoso afirma ser favorável a mudanças nos currículos na área. Ele defende que os alunos tenham mais liberdade para montar seu curso.
Cardoso, porém, mostra ceticismo em relação à participação de empresários nos currículo. "Poucos têm background [bagagem] para tal."

Diretor de comunicação da Associação Brasileira de Educação em Engenharia, Vanderli Fava de Oliveira diz que o ideal seriam estudos conjuntos entre governo, empresas e faculdades para determinar necessidades futuras.

Ele diz que o momento é favorável a mudanças. "Pela primeira vez, o sistema produtivo chamou governo e universidade com propostas concretas e factíveis."

Diretor executivo do Semesp (sindicato das universidades privadas de São Paulo), Rodrigo Capelato diz ser positiva a aproximação entre escolas e empresários.

Ele lembra, entretanto, que há três anos tentou parceria com empresas paulistas, que previa uso das indústrias como laboratórios de ensino. Dificuldades burocráticas nas companhias impediram o fechamento do acordo.


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