Folha de S. Paulo


Alunos da periferia de São Paulo vão à Índia para competição de matemática

Sete alunos de uma escola pública no Jardim Ângela, na periferia de São Paulo, chegarão nos próximos dias aonde muito estudante de classe média alta nunca chegou.

Na próxima semana, eles embarcam para a Índia, onde disputarão uma competição internacional de matemática, robótica e ciências com delegações de 40 países.

A escola em que estudam, a estadual Luís Magalhães de Araújo, teve uma classe premiada na Olimpíada de Matemática Sem Fronteiras.

Por esse motivo, a Rede do Programa de Olimpíadas do Conhecimento a convidou para o evento, chamado Quanta, ao lado de outras cinco escolas brasileiras, só mais uma pública.

A decisão de quem iria para a Índia foi dos próprios alunos. Mas a professora Maria Consoladora da Silva, a Dora, teve papel central.

Acionou uma editora de livros didáticos, que custeou as passagens. Incentivou os alunos a pedirem auxílio no site "Vaquinha Online". Com isso, empresários se interessaram pelo projeto e Maria Antonia Civita decidiu apoiar.

Como as provas serão aplicadas em inglês, os estudantes do terceiro ano do ensino médio correm para aprender ou aperfeiçoar o idioma.

Além disso, eles estão em plena época de vestibulares. Prestam o Enem neste final de semana e a Fuvest no fim do mês. São mais de 12 horas diárias de estudos.

E, apesar da correria, a viagem vem em boa hora: "Ajuda a abrir a mente. Vamos conhecer outra cultura, outras pessoas. O mais importante é a maturidade para saber estudar", diz Keila Carvalho, 16.

Apu Gomes/Folhapress
Alunos da escola estadual Luís Magalhães, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, participarão de competição de matemática
Alunos da escola Luís Magalhães, na zona sul de SP, participarão de competição de matemática

DEDICAÇÃO

A trajetória desses alunos vai na mesma linha do que pedagogos teorizam. Um professor que estimula a confiança é mais indispensável do que salas de aula equipadas com ferramentas tecnológicas e atividades mirabolantes para prender a atenção.

Diego Henrique achava que queria ser jornalista. No primeiro ano do ensino médio, precisou mudar para o turno noturno para trabalhar. Frustrado com o desinteresse dos colegas, abriu mão do serviço e voltou a estudar de dia.

Caiu na turma da professora Dora, conhecida pela exigência e autoridade em sala.

"Percebi que gostava de matemática", diz. Diego passou a frequentar os cursos extras que ela oferece. A professora insiste na importância do trabalho em grupo. Os alunos com mais facilidade se tornam os tutores dos colegas.

Diego acabou se destacando. Representará a escola na prova de robótica do Quanta. E prestará engenharia no vestibular. Sua meta é a USP.

Além do interesse por matérias de exatas, a ambição é comum ao grupo. Viajar para a Índia não basta. "A gente quer ir pra ganhar", disse Raphaela Seixas, 17.


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