Folha de S. Paulo


Em escola de SP, alunos podem votar até expulsão de colega

As assembleias escolares deixam marcas. Célia Senna, diretora do Instituto Lumiar, conta que suou frio quando a expulsão de um aluno com comportamento agressivo foi parar na pauta.

A direção não defendia a medida, mas optou por respeitar as normas da escola, onde tudo é decidido por todos.

A expulsão estava sendo selada quando um colega de sala ponderou que seria irreversível. Outros estudantes refletiram e optaram por uma suspensão de dois dias. A direção respirou aliviada.

Em outra ocasião, funcionários e tutores, como são chamados professores, questionaram o veto ao consumo de café na escola. Colocaram o debate na roda –os estudantes concordaram em liberar a bebida para adultos e crianças autorizadas pelos pais.

Na última segunda-feira (29), a turma de 40 alunos da unidade particular do instituto em Santo Antônio do Pinhal votou se a reportagem poderia acompanhar a roda.

Davi Ribeiro/Folhapress
Criança participa de debate na escola, no interior de SP
Criança participa de debate na escola, no interior de SP

Aprovada, foi apresentada aos métodos didaticamente por um aluno: levanta-se a mão para falar, presta-se atenção e não se deixa a roda, a menos que seja urgente (uso do banheiro).

Um garoto inscreveu-se para falar do ataque a ninhos de passarinhos com punhados de areia. "É mais ou menos a casa deles. Vocês iam gostar se jogassem uma coisa enorme na nossa casa?"

Há questões amenas, em geral relacionadas a comidas: quem gosta de bisnaguinha levanta a mão, propõe uma criança. Pão ou torrada no lanche da tarde, suscita outra.

A Lumiar evita a palavra "aluno" porque significa "sem luz". Do mesmo modo, não há professores, mas tutores e mestres. Não há repetência nem provas, a menos que seja essa a vontade das crianças.

Não há série nem conteúdo, mas ciclos e projetos, decididos no voto e abordados multidisciplinarmente.

No fim de 2013, por exemplo, as crianças decidiram estudar o pum. A mestre fez um projeto no qual, para entender o sistema digestivo, elas simularam o estômago colocando alimentos num saco plástico e comprimindo-os com as mãos algumas horas.

Erika Oliveira, 38, tutora da Lumiar pública, afirma que muitos professores da rede municipal não se adaptam. "É preciso estar predisposto a ser questionado", afirma.


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