Folha de S. Paulo


Em colégios de SP, crianças decidem no voto de lanche a conteúdo de aula

A candidata prometeu gelatina todo dia, hora do sono na cachoeira e passeios para consumo de sacolé (picolé artesanal). Como na política, eleita, ela não cumpriu a maioria de suas promessas.

Nesse caso, porém, o mandato foi melhor do que a encomenda. Aos nove anos, a presidente chamou o prefeito da cidade e o convenceu a fazer de um puxadinho uma nova sala de aula na escola que comandou em 2013.

Localizada em Santo Antônio do Pinhal, a 171 km da capital paulista e rodeada pelas montanhas da serra da Mantiqueira, a escola Lumiar funciona com base em decisões tomadas em assembleias semanais, chamadas de rodas.

Nelas, crianças e adultos decidem no voto os assuntos mais cotidianos –como o que será servido no lanche– e os mais fundamentais –como o conteúdo do bimestre.

Davi Ribeiro/Folhapress
Escola Lumiar em Santo Antônio do Pinhal, a 171 km da capital paulista; decisões do dia a dia passam pelos estudantes
Escola Lumiar em Santo Antônio do Pinhal, a 171 km da capital paulista; decisões do dia a dia passam pelos estudantes

A participação dos alunos em decisões da escola é tendência ascendente em São Paulo. De 2010 para cá, até colégios tradicionais adotaram práticas como assembleias.

O Porto Seguro, por exemplo, passou a fazer clubes de debates, nos quais alunos do ensino médio se reúnem na ausência do corpo docente para discutir temas internos e externos ao colégio. Depois, os assuntos que professores consideram merecer uma abordagem didática são retomados.

O Dante Alighieri criou um comitê gestor discente que promove debates sobretudo relacionados ao uso de equipamentos tecnológicos.

A escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) faz assembleias semanais para azeitar a relação entre os alunos do ensino fundamental.

Mas as experiências mais radicais se dão em escolas nas quais os alunos decidem o que estudarão.

Uma das fundadoras do Instituto Lumiar, a socióloga Helena Singer identificou esse modelo em oito instituições na cidade de São Paulo.

Quatro são públicas –a mais conhecida delas é a municipal Desembargador Amorim Lima, que literalmente quebrou barreiras ao derrubar paredes de salas de aula.

As outras são as municipais Presidente Campos Salles, localizada na favela de Heliópolis, e a Chácara Sonho Azul, no Jardim Ângela, além do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos Campo Limpo, no Capão Redondo.

Quatro são privadas: Politeia, da qual Singer também foi uma das fundadoras, Teia Multicultural e Viver. A Lumiar possui duas unidades privadas, uma na capital e outra em Santo Antônio do Pinhal. Coordena ainda uma escola pública municipal na cidade do interior.


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