Folha de S. Paulo


Opinião: Por que não ter universidades só de ensino?

Hoje estão credenciadas pelo Ministério da Educação 195 universidades (192 classificadas pelo RUF), num universo de mais de 2.000 instituições de ensino superior.

Alcançar o status de universidade é um sonho das instituições de ensino, sobretudo das particulares. Muitas delas (mais de 60) não o alcança e apela para um recurso dúbio: usar uma sigla que se inicia com UN, ainda que o nome oficial mostre não se tratar de universidade.

Certamente uma sigla fantasia iniciada com UN é atrativa, e o MEC, aparentemente, faz vista grossa. O mais preocupante, porém, talvez sejam as escolas que mantêm o status de universidade com méritos duvidosos.

Afinal, qual o significado de universidade? O conceito que se desenvolveu por séculos em países avançados pode ser resumido em "uma instituição de educação superior e de pesquisa que concede diplomas em uma variedade de áreas de conhecimento tanto ao nível de graduação como de pós-graduação".

O MEC tem um conceito bem mais condescendente. São condições indispensáveis para que uma instituição se credencie como universidade, entre as oito estabelecidas: um terço do corpo docente com titulação de mestrado ou doutorado, um terço em regime de trabalho em tempo integral e oferta de ao menos quatro cursos de mestrado e dois de doutorado.

Por trás das exigências burocráticas parece existir a aspiração de que juntamente com o ensino haja produção científica, medida por publicações em periódicos e livros.

No RUF 2014, a média de publicações anuais nas dez universidades mais produtivas é de 1,12 por docente. No outro extremo, um terço das menos produtivas apresenta uma média anual de 0,03, o que equivale a 2,7% do índice das mais produtivas.

É aceitável haver essa desproporção entre escolas intituladas universidades? Certamente trata-se de coletividades de distintas naturezas e finalidades. Por que não reconhecê-las como portadoras de objetivos distintos?

Nos Estados Unidos, por exemplo, há, além de universidades de grande prestígio, "colleges" dedicados à pesquisa/ensino e "colleges" somente voltados ao ensino. Em ambos os gêneros se encontram os de renome.

Poderíamos entender também as nossas universidades como dirigidas a duas vertentes, como de fato o são: as "stricto sensu", cuja missão é a adotada pelas universidades mundiais de prestígio (no Brasil existe um conjunto delas), e as de ensino, que poderiam assumir a vocação de ensinar sem pesquisa.

O que as distinguiria de outras instituições de ensino superior seria o número expressivo de cursos, a infraestrutura qualificada e o corpo docente bem avaliado pelo MEC, por meio de comissões "ad hoc", com membros nacionais e internacionais.

Dessa forma evitaríamos universidades com raquíticas estruturas de pesquisa, voltadas para vultosos alunatos.

ROGÉRIO MENEGHINI é coordenador científico do Programa SciELO (base que reúne 279 periódicos científicos nacionais com acesso aberto), professor aposentado da USP e responsável pela medição científica do RUF.
ESTÊVÃO GAMBA é doutorando da Unifesp e corresponsável pela medição científica do RUF.


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